O que o Evangelho e o cristão têm a ver com o racismo?

O que o Evangelho e o cristão têm a ver com o racismo?Hoje, dia 21 de março, marca o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como referência o episódio que ficou conhecido como “Massacre de Shaperville”, em 1960 na África do Sul.

O massacre ocorreu quando cerca de 20 mil sul-africanos protestaram contra a determinação imposta pelo governo da época, de limitar os locais onde a população negra poderia circular.

Em resposta à manifestação, que era considerada pacífica, militares da África do Sul atuaram violentamente para reprimir o protesto. Tiros foram disparados contra os manifestantes, resultando na morte de 69 pessoas e mais de 180 feridos.

O episódio atraiu a atenção da opinião pública mundial para o Apartheid – sistema de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1994 – e que teve Nelson Mandela com um dos principais atores para o seu fim. Aliás, o cristão metodista Nelson Mandela era chamado carinhosamente em sua terra de “Madiba”, que quer dizer “conciliador”. Mandela foi um grande exemplo de pacificador, portanto um “bem-aventurado” conforme as palavras de Jesus em Mateus 5.9 (“Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”).

O que o Evangelho e o cristão têm a ver com o racismo?
Nelson Mandela (1918-2013)

Diante da data, do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, vamos hoje falar sobre esse assunto que infelizmente ainda precisa ser tratado em nossa sociedade, que é o racismo. Digo infelizmente, pois esperávamos que o ser humano evoluiria de modo a entender que somos todos iguais diante de Deus: somos suas criaturas, somos humanos, somos semelhantes. Mas a cada dia o mundo nos mostra que a Bíblia, a Palavra de Deus, está correta e que o pecado é o grande mal que corrompeu a humanidade, nos colocando uns contra os outros e contra o próprio Deus.

O que o racismo tem a ver com o Evangelho?

Queria basear essa reflexão nos apontamentos da teóloga Jacira Monteiro, autora do livro “O Estigma da Cor”, no traz em seu texto “O racismo é antievangelho”, publicado originalmente pela editora Ultimato. Ela nos indaga: “Por que nós, cristãos, devemos nos preocupar com o tema do racismo? O que esse tema tem a ver com o Evangelho de Jesus Cristo?”.

E traz uma resposta que passo a compartilhar, tomando a liberdade de fazer alguns adendos, por considerá-la sucinta e suficiente para entendermos a gravidade do problema e a importância do combate a esse pecado. Eis as considerações da autora:

Por causa do pecado, o homem passou a tratar o seu semelhante com acepção – uns com favoritismo e outros com desprezo e discriminação negativa. Mas, para a Bíblia, acepção de pessoas é pecado, é uma falha frontal no mandamento do amor ao próximo.

Isso já nos dá motivos suficientes para, como cristãos, nos importarmos com a temática do racismo e da discriminação de pessoas independente de etnia, cor, gênero, religião, etc. Mas ainda existem duas outras considerações sobre as quais precisamos nos debruçar:

O que o Evangelho e o cristão têm a ver com o racismo?
Jacira Monteiro é autora do livro “O Estigma da Cor”

1) O racista não vê o próximo como seu igual, mas como alguém inferior; e isso é nocivo e destrutivo à vida comunitária para qual o Senhor Jesus nos chamou a viver como igreja, e também à vida em sociedade no geral;

2) não é porque somos iguais em valor perante Deus e – supostamente – perante a lei dos homens (isto é, somos todos humanos) que seremos tratados de forma igual. A espinha dorsal da questão está bem aqui, porque o cristão é, pela sua nova natureza, alguém que se importa com a justiça de Deus. Ele não é um sujeito passivo, mas ativo na busca dessa justiça, principalmente no mundo de injustiças e discriminações diversas em que vivemos.

O apóstolo Tiago disse que, se fizermos acepção de pessoas, cometeremos pecado e seremos condenados pela lei como transgressores (Tg 2.9). O racismo é, portanto, transgressão da lei de Deus. Fazer uma hierarquia das pessoas por causa da cor de sua pele e de sua origem é pecado. O racismo é uma injustiça, uma profanação, uma aberração do mandato social do Senhor para suas criaturas do amor ao próximo.

Racismo é pecado

Colocar racismo como pecado é elevar sobremaneira o nível da discussão. Ainda que você não seja preso ou receba uma multa por ter tido uma atitude ou pensamento racista, para o Senhor, ainda assim, você já foi condenado por este pecado e precisa se arrepender e se reconciliar com o seu próximo.

Falar de racismo é lançar luz sobre uma chaga, elucidando, assim, as nossas mentes para que o combate a esse mal seja, de fato, efetivo.

Tratar o tema e agir em prol da restauração da dignidade verdadeira do nosso próximo é próprio da justiça bíblica, é próprio da ética cristã. A omissão com relação ao tratamento dessa temática também é uma forma, direta ou indireta, de fazer a manutenção desse sistema injusto e desigual que está em nosso mundo.

A omissão em combater o racismo é, portanto, pecado. Quem sabe que deve fazer o bem e se omite também comete pecado, diz a Bíblia (Tiago 4.17). E comete pecado porque, se não combate o mal, consente com ele. Não tem como ser neutro.

A acepção de pessoas, seja por quaisquer motivos que forem, é um assunto muito sério para Deus, segundo a Bíblia.

O desafio reflexivo que a autora nos faz é o seguinte: o quanto você individualmente e sua igreja local levam a sério esse assunto e o que você faz, diariamente, no combate a esse mal?

“O reino de Deus é um reino de paz e dos reconciliados. Mas só haverá reconciliação se houver justiça e santificação. O pecado do racismo é a antítese do amor; o racismo é contra a justiça e a paz. O racismo é um pecado antirreino de Deus”.

Pessoas serem tratadas, diariamente, com menos dignidade por causa de sua cor, é uma afronta direta ao Criador que as fez.

É por isso que nós, cristãos, não podemos nos silenciar frente a esse assunto tão importante e urgente. Somos iguais sim, mas infelizmente ainda não somos tratados de forma igual. Isso é diabólico. O racismo é diabólico. É uma antítese do Evangelho de Jesus Cristo e precisa ser combatido com verdade, graça, amor e justiça.

Existe perdão para o racista que se arrepende e crê

A boa notícia é que Jesus chama todos ao arrependimento, inclusive os racistas. “Arrependam-se e creiam no Evangelho” (Mc 1.15), é o chamado de Jesus para todos os homens. Em Jesus há perdão, reconciliação e transformação verdadeira de vida. Se Jesus transformou um assassino de cristãos um dos homens que mais demonstrou amor ao próximo neste mundo, a ponto de entregar a vida pela causa do Amor a Deus e ao próximo – no caso o apóstolo Paulo – então ele também pode transformar a vida de um racista. Por que o que é impossível para os homens é possível para Deus.

Não nos calemos diante da injustiça do racismo; mas também não nos calemos de anunciar o verdadeiro antídoto para o racismo: o Evangelho do Senhor Jesus Cristo, que morreu pelo perdão dos pecados de todo aquele que nEle cre e se arrepende. Só em Jesus há salvação, reconciliação e transformação verdadeira de vida, de dentro para fora, a partir de um novo coração dado por Ele.

Querido leitor do Fé Pública, que nos lembremos da Palavra de Deus, que nos diz para não combatermos o mal com o mal, para que não nos tornemos semelhantes aos nossos algozes. Mas que combatamos o mal com o bem, para que sejamos como nosso Senhor Jesus Cristo.

— Vocês ouviram o que foi dito: “Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo.” Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para demonstrarem que são filhos do Pai de vocês, que está nos céus. Porque ele faz o seu sol nascer sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se vocês amam aqueles que os amam, que recompensa terão? Os publicanos também não fazem o mesmo? E, se saudarem somente os seus irmãos, o que é que estão fazendo de mais? Os gentios também não fazem o mesmo? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Mateus 5.43-48)

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