Hoje, dia 21 de março, marca o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A data, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como referência o episódio que ficou conhecido como “Massacre de Shaperville”, em 1960 na África do Sul.
O massacre ocorreu quando cerca de 20 mil sul-africanos protestaram contra a determinação imposta pelo governo da época, de limitar os locais onde a população negra poderia circular.
Em resposta à manifestação, que era considerada pacífica, militares da África do Sul atuaram violentamente para reprimir o protesto. Tiros foram disparados contra os manifestantes, resultando na morte de 69 pessoas e mais de 180 feridos.
O episódio atraiu a atenção da opinião pública mundial para o Apartheid – sistema de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1994 – e que teve Nelson Mandela com um dos principais atores para o seu fim. Aliás, o cristão metodista Nelson Mandela era chamado carinhosamente em sua terra de “Madiba”, que quer dizer “conciliador”. Mandela foi um grande exemplo de pacificador, portanto um “bem-aventurado” conforme as palavras de Jesus em Mateus 5.9 (“Bem aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”).

Diante da data, do Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, vamos hoje falar sobre esse assunto que infelizmente ainda precisa ser tratado em nossa sociedade, que é o racismo. Digo infelizmente, pois esperávamos que o ser humano evoluiria de modo a entender que somos todos iguais diante de Deus: somos suas criaturas, somos humanos, somos semelhantes. Mas a cada dia o mundo nos mostra que a Bíblia, a Palavra de Deus, está correta e que o pecado é o grande mal que corrompeu a humanidade, nos colocando uns contra os outros e contra o próprio Deus.
O que o racismo tem a ver com o Evangelho?
Queria basear essa reflexão nos apontamentos da teóloga Jacira Monteiro, autora do livro “O Estigma da Cor”, no traz em seu texto “O racismo é antievangelho”, publicado originalmente pela editora Ultimato. Ela nos indaga: “Por que nós, cristãos, devemos nos preocupar com o tema do racismo? O que esse tema tem a ver com o Evangelho de Jesus Cristo?”.
E traz uma resposta que passo a compartilhar, tomando a liberdade de fazer alguns adendos, por considerá-la sucinta e suficiente para entendermos a gravidade do problema e a importância do combate a esse pecado. Eis as considerações da autora:
Por causa do pecado, o homem passou a tratar o seu semelhante com acepção – uns com favoritismo e outros com desprezo e discriminação negativa. Mas, para a Bíblia, acepção de pessoas é pecado, é uma falha frontal no mandamento do amor ao próximo.
Isso já nos dá motivos suficientes para, como cristãos, nos importarmos com a temática do racismo e da discriminação de pessoas independente de etnia, cor, gênero, religião, etc. Mas ainda existem duas outras considerações sobre as quais precisamos nos debruçar:

1) O racista não vê o próximo como seu igual, mas como alguém inferior; e isso é nocivo e destrutivo à vida comunitária para qual o Senhor Jesus nos chamou a viver como igreja, e também à vida em sociedade no geral;
2) não é porque somos iguais em valor perante Deus e – supostamente – perante a lei dos homens (isto é, somos todos humanos) que seremos tratados de forma igual. A espinha dorsal da questão está bem aqui, porque o cristão é, pela sua nova natureza, alguém que se importa com a justiça de Deus. Ele não é um sujeito passivo, mas ativo na busca dessa justiça, principalmente no mundo de injustiças e discriminações diversas em que vivemos.
O apóstolo Tiago disse que, se fizermos acepção de pessoas, cometeremos pecado e seremos condenados pela lei como transgressores (Tg 2.9). O racismo é, portanto, transgressão da lei de Deus. Fazer uma hierarquia das pessoas por causa da cor de sua pele e de sua origem é pecado. O racismo é uma injustiça, uma profanação, uma aberração do mandato social do Senhor para suas criaturas do amor ao próximo.
Racismo é pecado
Colocar racismo como pecado é elevar sobremaneira o nível da discussão. Ainda que você não seja preso ou receba uma multa por ter tido uma atitude ou pensamento racista, para o Senhor, ainda assim, você já foi condenado por este pecado e precisa se arrepender e se reconciliar com o seu próximo.
Falar de racismo é lançar luz sobre uma chaga, elucidando, assim, as nossas mentes para que o combate a esse mal seja, de fato, efetivo.
Tratar o tema e agir em prol da restauração da dignidade verdadeira do nosso próximo é próprio da justiça bíblica, é próprio da ética cristã. A omissão com relação ao tratamento dessa temática também é uma forma, direta ou indireta, de fazer a manutenção desse sistema injusto e desigual que está em nosso mundo.
A omissão em combater o racismo é, portanto, pecado. Quem sabe que deve fazer o bem e se omite também comete pecado, diz a Bíblia (Tiago 4.17). E comete pecado porque, se não combate o mal, consente com ele. Não tem como ser neutro.
A acepção de pessoas, seja por quaisquer motivos que forem, é um assunto muito sério para Deus, segundo a Bíblia.
O desafio reflexivo que a autora nos faz é o seguinte: o quanto você individualmente e sua igreja local levam a sério esse assunto e o que você faz, diariamente, no combate a esse mal?
“O reino de Deus é um reino de paz e dos reconciliados. Mas só haverá reconciliação se houver justiça e santificação. O pecado do racismo é a antítese do amor; o racismo é contra a justiça e a paz. O racismo é um pecado antirreino de Deus”.
Pessoas serem tratadas, diariamente, com menos dignidade por causa de sua cor, é uma afronta direta ao Criador que as fez.
É por isso que nós, cristãos, não podemos nos silenciar frente a esse assunto tão importante e urgente. Somos iguais sim, mas infelizmente ainda não somos tratados de forma igual. Isso é diabólico. O racismo é diabólico. É uma antítese do Evangelho de Jesus Cristo e precisa ser combatido com verdade, graça, amor e justiça.
Existe perdão para o racista que se arrepende e crê
A boa notícia é que Jesus chama todos ao arrependimento, inclusive os racistas. “Arrependam-se e creiam no Evangelho” (Mc 1.15), é o chamado de Jesus para todos os homens. Em Jesus há perdão, reconciliação e transformação verdadeira de vida. Se Jesus transformou um assassino de cristãos um dos homens que mais demonstrou amor ao próximo neste mundo, a ponto de entregar a vida pela causa do Amor a Deus e ao próximo – no caso o apóstolo Paulo – então ele também pode transformar a vida de um racista. Por que o que é impossível para os homens é possível para Deus.
Não nos calemos diante da injustiça do racismo; mas também não nos calemos de anunciar o verdadeiro antídoto para o racismo: o Evangelho do Senhor Jesus Cristo, que morreu pelo perdão dos pecados de todo aquele que nEle cre e se arrepende. Só em Jesus há salvação, reconciliação e transformação verdadeira de vida, de dentro para fora, a partir de um novo coração dado por Ele.
Querido leitor do Fé Pública, que nos lembremos da Palavra de Deus, que nos diz para não combatermos o mal com o mal, para que não nos tornemos semelhantes aos nossos algozes. Mas que combatamos o mal com o bem, para que sejamos como nosso Senhor Jesus Cristo.
— Vocês ouviram o que foi dito: “Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo.” Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para demonstrarem que são filhos do Pai de vocês, que está nos céus. Porque ele faz o seu sol nascer sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se vocês amam aqueles que os amam, que recompensa terão? Os publicanos também não fazem o mesmo? E, se saudarem somente os seus irmãos, o que é que estão fazendo de mais? Os gentios também não fazem o mesmo? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Mateus 5.43-48)