Feito por várias mãos, corações e fé. O terço de 21 metros segue para um dos últimos processos de confecção antes de ser erguido nas palmeiras no Convento da Penha, em Vila Velha, no “Sábado Santo”, que cairá no dia 19 de abril, às 9h.
Com o tema “Com Maria, peregrinos da esperança”, o terço conta com 53 “Ave Maria” e 59 “Pai Nosso”, feitos de bolas de isopor encapadas por flores impressas em tecidos, impermeabilizadas com parafina e pregadas com alfinetes. Além disso, o terço conta ainda com uma cruz de madeira maciça, mais de 65 luzes de led, entre outros detalhes.
Atualmente, cerca de 13 pessoas seguem no processo, mas esse não é o número final. A previsão é de que cerca de 25 pessoas façam parte desse circuito até o momento em que ele será hasteado, como eletricistas e bombeiros, que vão pendurar o que já se tornou um símbolo de fé na Festa da Penha.
Qual o significado do terço?
O guardião do Convento, Frei Gabriel Dellandrea, conta que o terço, além de um símbolo de fé, é também uma representação de que a Festa da Penha, comemorada do dia 20 a 28 de abril, começou.
“Esse terço não fica só na palmeira. As pessoas vão portar consigo esse símbolo de fé. Muitas vezes vamos rezar a oração do terço chamada ‘Coroa Franciscana das Sete Alegrias de Nossa Senhora’, que estará na programação da festa. Então, o terço não ficará na palmeira, mas estará em nosso coração”, destacou.
O Frei fala ainda do diferencial que a Festa da Penha carrega. “Ela traz a expressão da piedade popular. A manifestação das romarias, com suas diferentes expressões de fé, assim como o terço com suas cores diversas, mostra essa diversidade da expressão da fé, lembrando também dos outros continentes. Assim somos nós, diferentes, demonstrando a fé do nosso jeito, porém ligados pela corda da fé”, explicou.

Osmar Sales, o idealizador do terço gigante, conta que o símbolo surgiu em 1998, com seis metros, para trazer à memória dos fiéis reflexão e momento de oração. “O sentido maior dessa festa é a alegria de Nossa Senhora e ressurreição de seu filho, Jesus Cristo. Mas o símbolo celebrado nessa história é o terço que faz com que o fiel, ao meditá-lo, relembre todo o período de acontecimento da história de Maria e Jesus Cristo”.
Completando 27 anos, Osmar relembra de quando o terço foi erguido pela primeira vez. “Ele foi colocado por acaso e virou um símbolo da festa porque todos que viam, traziam para as mãos o terço que muitas vezes era esquecido. Momento em que milhões de pessoas se juntam para oração e faz com que a fé se fortaleça”.
O responsável pela produção do terço destaca ainda que o símbolo deste ano foi pensado em ser uma proposta colorida. “Pensamos em fazê-lo colorido e casou exatamente com a proposta da esperança, e quando as cores do ano jubilar, representando as pessoas, foram informadas – vermelho, verde, amarelo e azul -, falamos do caminho que deve ser seguido com perseverança, mas também com esperança e fé. Essas cores simbólicas também representam o continente e inserimos o rosa que faz menção à imagem de Nossa Senhora”.

Honra e gratidão
Guardiã dos materiais do terço, Zenaide Demoner, 65 anos, fala sobre o sentimento de ter essa tarefa em mãos. “Eu sou guardiã há 12 anos. Eu me sinto honrada e muito grata por ser essa pessoas”, ressaltou.
Com os olhos cheios de lágrimas, ela conta que improvisou parte da casa para guardar o material. “Ele começou menor e foi crescendo e crescendo. Sendo assim, o Osmar precisava de ajuda e me dispus a isso. Fui improvisando o espaço e deu certo. Hoje, eu só agradeço a Deus por ser a pessoa responsável por guardar os materiais usados neste símbolo de fé em uma festa tão linda”, disse Zenaide.

Dedicação e amor
Maria Conceição Zampieri, 76 anos, nasceu no dia oito de dezembro. Sua chegada foi no alto do convento. Até hoje ela segue assim, se dedicando às ações e trabalhos de fé e amor. “Minha família veio do interior e meu pai era sacristão. Sempre vivemos ali, aos pés do convento. Eu sempre tive esse contato e há 12 anos estou aqui, sendo privilegiada em fazer parte desse grupo que confecciona o terço. Todas as vezes que estamos montando, a sensação, a emoção, é como se fosse minha primeira vez e quero seguir assim por muito tempo”, declarou.

Tempo de produção
Se alguém pensa que o terço é feito em um mês, está enganado. A preparação dele leva meses, quase um ano. Desde o pensamento da proposta, a divisão de materiais, cortes e produções.
A montagem teve início nesta quinta-feira (27) e no dia 18 de abril (sexta-feira Santa), ele será levado para o Convento onde será montado e erguido no dia 19, às 9h.
“Aqui a gente faz o corte dos tecidos que são pregados nas bolas de isopor. Pregamos com alfinetes. Outra pessoa está cuidando da parte da marcenaria com a crus e tem gente pensando na medalha do terço. Neste momento, separamos tudo o que é necessário para ser erguido”, conta o idealizador do terço gigante, Osmar Sales.
A montagem final é realizada no Convento da Penha, próximo às palmeiras onde o terço fica exposto. Esse processo de montagem e subida leva cerca de 5 horas. “Para isso contamos com eletricistas e também a equipe do Corpo de Bombeiros”, contou Osmar.

História do terço quase chega ao fim em 2002
Erguido pela primeira vez em 1998, o terço tinha apenas 6 metros. Naquele momento, ele foi pensado para fazer parte de uma ornamentação para abrilhantar a romaria das mulheres, que estava em sua segunda edição. “Aquele tinha as bolas menores, a cruz menor, e mesmo assim foi lindo. Tanto que seguimos nos anos posteriores”, lembrou Osmar Sales.
O primeiro terço foi produzido por Osmar e a equipe ainda não era tão grande. Encantados pelo monumento, no ano seguinte ele recebeu o pedido para fazer um novo terço, e assim fez. “Eu fiz o primeiro, já o segundo, terceiro e quarto, me pediram para produzir, e assim recebi a missão e fiz”.
A história do terço quase chegou ao fim em 2002, quando o mesmo caiu. “Eu me lembro que na ponta dele tinha um anjo, e mesmo caindo de uma certa altura, só quebrou os pés. Para mim, naquele momento, era um sinal de que não deveria mais fazer. Até que um amigo, que está com a gente até hoje, me perguntou: posso colocar, posso seguir? E eu disse que ele poderia por conta e risco. Hoje eu penso que foi muito bom ele ter insistido”, lembrou Osmar.

“Quando estamos montando o terço, cortando, colando, naquele momento já começamos a refletir, e mesmo que a gente converse, brinque com o amigo do lado, estamos em constante oração. Montar o terço já é uma oração para nós”, finalizou Osmar.