Escolas do Rio afetadas por tiroteios têm nota média no Ideb menor do que colégios longe dos confrontos


Segundo levantamento do Ministério Público do Rio, com base em estudos da Plataforma Fogo Cruzado, metade dos tiroteios na cidade acontecem perto de escolas. A Vila Kennedy e o Complexo da Maré são as áreas que registram mais confrontos perto de unidades de ensino. As escolas públicas do Rio de Janeiro localizadas em áreas de conflito armado, que sofrem com tiroteios frequentes, têm nota média no Ideb menor do que os colégios que ficam fora dessas regiões em guerra.
Somente nesta terça-feira (3), 38 escolas não abriram no Complexo da Maré, por conta de uma operação na região.
Segundo levantamento do Ministério Público do Rio, com base em estudos da Plataforma Fogo Cruzado, metade dos tiroteios na cidade acontecem perto de escolas. A Vila Kennedy e o Complexo da Maré são as áreas que registraram mais confrontos perto de unidades de ensino.
O RJ2 confrontou esses números com a base de dados do Ministério da Educação em relação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O estudo apontou que a nota média das escolas localizadas em áreas de confronto, com alunos dos anos iniciais, do 1º ao 5º ano (estudantes com 6 a 10 anos de idade), é 5,7. O número é inferior as escolas desse seguimento que ficam longe de regiões conflagradas (6,1).
Dados gerais do Ideb:
Anos iniciais:
5,7 – Escolas em áreas de confronto
6,1 – Escolas fora de áreas de confronto
A diferença se mantém a mesma quando observamos os dados das escolas com alunos dos anos finais, do 6º ao 9º ano (de 11 a 14 anos). Os colégios em áreas de tiroteio tiveram nota média 4,9, contra 5,3 das escolas que ficam foram das áreas de confronto.
Anos finais:
4,9 Escolas em áreas de confronto
5,3 Escolas fora de áreas de confronto
Vila Kennedy e Maré sofrem mais
Desde 2017, a Vila Kennedy e o Complexo da Maré estão no topo da lista dos locais que registram o maior número de tiroteios em um raio de 300 metros de escolas do estado.
Nos últimos sete anos, 45% (17.695) dos tiroteios na Região Metropolitana ocorreram próximo às unidades escolares e 30% (11.971) registraram a presença de policiais. Já na capital, 49% (11.800) ocorreram próximo a escolas e 29% (6.937) registraram a presença de agentes de segurança.
Confronto na Vila Kennedy afeta rotina dos moradores
Reprodução/TV Globo
Os dados constam em um documento do Ministério Público (MP) que tem como objetivo avaliar a redução da violência próximo à rede escolar com base nas estatísticas feitas pela plataforma Fogo Cruzado.
“Nós precisamos entender que o ambiente escolar possui algumas características que amplificam os efeitos desse tipo de violência, e esses efeitos impactam diversos grupos sociais. Então, eles não se limitam às vítimas, às famílias, quando existem. Mas afetam também todos os presentes nas escolas e a comunidade no entorno”, comentou Cléo Garcia, pesquisadora da Unicamp.
Esses números foram anexados pelo MP na ação que trata da letalidade policial em ações no Rio, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), a chamada ADPF 635.
Segundo Luciano Mattos, procurador-geral de Justiça do Rio, a decisão permite operações policiais no Rio, mas diz que as ações precisam ser controladas.
“Não é um problema simples, extremamente complexo, por isso a gente trabalha com protocolos, pra que o estado apresente – e nós apresentamos algumas sugestões de protocolo – para que isso seja minimizado e a gente consiga avançar a um só tempo, reduzindo o risco aos estudantes, mas também reduzindo a péssima qualidade de ensino, que acaba acontecendo com uma sequência de paralisação de aulas.”, comentou o procurador geral.
“O Ministério Público, em sua manifestação final, pediu ao stf que determine ao estado, em articulação aos municípios, a realização de um plano para mitigar e compensar essa questão das aulas impactadas em razão das operações policiais”, completou Luciano Mattos.
“Essa situação da violência que se instaura a partir do tráfico e da milícia, ela tem que encontrar uma alternativa diferente que coloque em primeiro lugar a proteção das nossas crianças e jovens. Porque nós estamos aprendendo todo dia e o tempo todo. A pergunta é: o que elas aprendem nessa situação? O que elas não aprendem, nós sabemos. Mas o que elas aprendem? Eu acho que essa pergunta precisa iluminart o protocolo”, diz André Lazaro, diretor da Fundação Santillana.
“Preciso da creche pra poder trabalhar. Então, esses dias que não tem, eu tenho que procurar alguém pra deixar ele, pagar uma pessoa pra ficar. Sem dizer também no atraso do estudos. Porque minha filha já tá no 9º ano. Perde muita matéria, muitos dias sem aula”, diz uma mãe de uma aluna que mora em uma das comunidades que tem aulas afetadas por confrontos.
O que dizem os citados
A Secretaria de Segurança disse que as operações são feitas seguindo um protocolo rigoroso, em conjunto com as secretarias de educação com o objetivo de preservar a vida de estudantes, professores e profissionais da educação.
A Secretaria Municipal de Educação afirmou que oferece estratégias de apoio pedagógico e reforço escolar.
A Secretaria Estadual de Educação declarou que segue o protocolo de comunicação e proteção de unidades escolares estabelecido pelo ministério público em conjunto com órgãos de segurança./ e que todo o conteúdo perdido será reposto.

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