
Uma premiação diferente ligada ao setor da erva-mate foi lançada no Rio Grande do Sul. Não será escolhido o melhor chimarrão, nem a erva mais saborosa, mas sim as árvores gigantes de erva-mate no estado.
As inscrições do Concurso Árvores Gigantes do Rio Grande do Sul — 2024/2025 — Ano da Erva-Mate estão abertas. Quem organiza a premiação é a Universidade de Passo Fundo (UPF), em parceria com diversas entidades do setor. O objetivo é encontrar árvores gigantes e antigas de erva-mate nos cinco polos ervateiros do estado: Missões/Celeiro, Alto Uruguai, Nordeste Gaúcho, Alto Taquari e Região dos Vales.
Ao Agro Estadão, o professor Dr. Jaime Martinez, coordenador do Laboratório de Manejo da Vida Silvestre da UPF e líder do concurso, destacou que a competição desperta o interesse da sociedade sobre a importância da espécie, seja para a extração de madeira, uso da lenha, aproveitamento das propriedades medicinais das folhas ou pelo papel dos frutos na alimentação de diversas espécies de animais.
“O grande objetivo é também fazer com que o proprietário rural olhe para dentro dos ambientes florestais da sua propriedade e descubra que ali tem exemplares de destaque que são muito significativos para a espécie vegetal. Com isso, podemos resgatar uma cultura florestal, algo que se perdeu com as lavouras anuais ou para fins de pecuária”, explica.
Podem se inscrever pessoas físicas, jurídicas e comunidades tradicionais que possuam imóveis, posse legal, lote de assentamento ou qualquer outra forma que caracterize posse da terra na região do concurso. A inscrição é feita presencialmente nos escritórios municipais da Emater/RS. O prazo vai até 30 de junho.
O que são árvores gigantes de erva-mate?

Segundo o professor Jaime Martinez, as árvores gigantes são aquelas remanescentes que sobraram da exploração florestal e que apresentam o maior porte entre os exemplares da sua espécie. “Aquelas que alcançarem as maiores circunferências do caule serão eleitas como árvores gigantes dentro da sua espécie”, explica.
O regulamento do concurso define que a árvore gigante de erva-mate possui mais de 1,5 metro de circunferência, medido a partir de 1,3 m acima do solo. “Mas esperamos encontrar maiores, a partir de 2 metros e pouco de circunferência”, estima Martinez.
Árvores adaptadas ao clima e ao solo do Rio Grande do Sul
O concurso também busca transformar essas árvores gigantes de erva-mate em árvores matrizes para a produção de mudas, com a devida autorização dos proprietários das terras onde estão localizadas. Segundo o líder do concurso, a ideia é produzir plantas adaptadas às condições climáticas e geográficas do Rio Grande do Sul.
“Se uma árvore se tornou gigante, é porque viveu muitos anos. E, se viveu por um longo período, é porque tem boa adaptação ao clima da região, uma interação favorável com o solo onde se encontra e, geneticamente, apresenta resistência ao ataque de doenças e pragas. Assim, a tendência é que suas filhas sejam parecidas com a mãe. Por isso, vamos elegê-las como árvores matrizes”, destaca.
Após a seleção das árvores matrizes, as sementes devem ficar disponíveis em viveiros públicos e privados, permitindo a exploração da variabilidade genética.
Valorização da cultura ervateira gaúcha
O coordenador da Câmara Setorial da Erva-Mate, agrônomo Ilvandro Barreto, explica que a erva-mate é patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. “O concurso vai possibilitar a discussão sobre a cultura, a história, os próprios benefícios da erva-mate e sua importância social, cultural, econômica e ambiental”, disse à reportagem.
Segundo dados da Câmara Setorial da Erva-Mate, uma das responsáveis pela organização do concurso, 14 mil produtores produzem erva-mate em 36 mil hectares no estado. Além disso, 80% da exportação brasileira do produto é feita pelo Rio Grande do Sul.
Fruto da erva-mate ajudar a preservar a fauna gaúcha

Quando se fala em erva-mate, a maioria lembra apenas das folhas, que concentram mais de 100 propriedades bioativas. No entanto, os frutos produzidos pela árvore também têm grande importância. Pequenos e de coloração quase preta, eles atraem muitas espécies da fauna silvestre, especialmente aves, como sabiá-laranjeira, sabiá-barranco, tucano, bem-te-vi, jacu e pomba do mato.
“Estudos mostram que a erva-mate mantém uma interação com mais de 15 espécies de aves, o que é fantástico para a conservação da nossa fauna. Além de se alimentarem do fruto, essas aves se tornam importantes agentes dispersores da erva-mate dentro da floresta de araucárias, o ambiente natural onde a erva-mate nativa normalmente se desenvolve”, ressalta o professor Jaime Martinez.
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