Um terremoto de magnitude 7,7 atingiu o país asiático de Mianmar nesta sexta-feira (28) e também foi fortemente sentido na China e na Tailândia. Na capital tailandesa de Bangkok, os tremores derrubaram um prédio em construção e deixaram ao menos três mortos e dezenas de desaparecidos. Em Naypyitaw, capital de Mianmar, o último balanço registra 20 mortos, segundo a agência de notícias AFP (Associated Free Press).
Nos últimos anos, algumas catástrofes, tanto naturais, quando provocadas pelo homem aconteceram em nosso mundo. Podemos lembrar do tsunami em 2004 na Indonésia; do Furação Katrina, na Flórida (2005); no terremoto no Haiti (2010); e, mais recentemente, a pandemia do coronavírus (2020 – 2023) e as chuvas e inundações no Rio Grande do Sul (2024).
Diante das catástrofes, muitas pessoas são levadas a meditar sobre a presença do mal, do sofrimento e da injustiça no mundo e como isso se harmoniza com a pregação cristã de que há um Deus onipotente e infinitamente bom.
A pergunta que muitos fazem é: onde estava Deus quando aquela tragédia aconteceu?
Para esclarecer o que a cosmovisão cristã-bíblica nos diz sobre este assunto, vamos nos utilizar das considerações que o pastor e doutor em Teologia Augustus Nicodemus, em seu texto “A tragédia de Brumadinho e Deus”¹, faz sobre aquela tragédia, que atingiu o município em Minas Gerais no ano de 2019, mas que cabem quando o assunto é a relação do Senhor com os desastres naturais e humanos que atingem o mundo.
Nicodemus afirma:
Qualquer tentativa de entender as tragédias, desastres, catástrofes e outros males que sobrevêm à humanidade, não pode deixar de levar em consideração três componentes da revelação bíblica, que são (1) a realidade da queda moral e espiritual do homem, (2) o caráter santo e justo de Deus e (3) o sofrimento de Jesus Cristo por nós.

Lemos em Gênesis 1-3 que Deus criou o homem e a mulher e que os colocou no jardim do Éden, com o mandamento para que não comessem do fruto proibido. O texto relata como eles desobedeceram a Deus e decaíram assim do estado de inocência, retidão e pureza em que haviam sido criados.
Essa “queda” afetou não somente a Adão e Eva, mas trouxe consequências terríveis a toda a sua descendência. A culpa deles foi imputada por Deus aos seus filhos, e a corrupção de sua natureza foi transmitida por geração ordinária a todos os seus descendentes.
Ou seja, a humanidade inteira, sem exceção – visto que não há um único justo, um único que seja inocente e sem pecado – está sujeita ao justo castigo de Deus, o que inclui – atenção! – a morte, as misérias temporais (onde se enquadram as tragédias, as calamidades, os desastres, as doenças, o sofrimento) e as misérias espirituais (que a Bíblia chama de morte eterna, inferno, lago de fogo, etc.).
A queda do homem impactou a criação
A queda do homem não impactou somente a humanidade, impactou também toda a criação. Deus disse a Adão, “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo” (Gn 3.17-19).
Ou seja: as catástrofes, desastres, calamidades, tragédias, que sejam naturais ou fruto do erro humano, são o resultado de Deus ter amaldiçoado a terra por causa do pecado do homem. Deus permite estas misérias e castigos para despertar a raça humana, para provocar o arrependimento, para refrear o pecado do homem, para suscitar nele o temor de Deus, para desapegar o homem das coisas desta vida e levá-lo a refletir sobre as coisas vindouras.
À luz da Palavra de Deus, diante de desastres naturais ou mesmo humanos, devemos nos lembrar que eles ocorrem como parte das misérias e castigos temporais resultantes das nossas culpas, de nossos pecados, como raça pecadora que somos.
Poderia ser eu ou você que estávamos em Myanmar, na Indonésia, na Tailândia, no Haiti, em Brumadinho, na Indonésia, no Rio Grande do Sul ou em Mimoso do Sul quando as tragédias aconteceram e ceifaram milhares de vidas. Ou poderia ser alguém muito melhor e mais reto diante de Deus do que eu ou você. Ainda assim, Deus não teria cometido qualquer injustiça, ainda que essas pessoas que se foram fossem os melhores homens e mulheres que já pisaram a face da terra. Pois mesmo estes são pecadores. Não existem inocentes diante de Deus. Pensemos nisto, antes de ficar indignado contra Deus diante do sofrimento humano.
Deus sofre conosco
Não podemos nos esquecer, apesar disso, que o Deus justo é também o Deus que sofre conosco.
Deus Filho se tornou um de nós pela encarnação no ventre de Maria, e viveu uma vida de sofrimento e dor que terminou com sua morte na cruz. O sofrimento que ele carregou e suportou não era decorrente do pecado, pois nele não havia pecado, nem original nem seu próprio. Ele carregou nossa dor e experimentou nosso sofrimento para que pudéssemos ser justificados dos nossos pecados, perdoados, aceitos por Deus como seus filhos, para nos livrar do sofrimento eterno e recebermos a vida eterna.

Deus sabe o que é sofrer. Por isto, podemos encontrar nele respostas e conforto na hora da dor.
Por último, é preciso deixar claro três coisas. Primeira, que nada do que foi dito anteriormente me impede de chorar com os que choram, e sofrer com os que sofrem. Nós todos somos membros da mesma raça, e quando um sofre, nós sofremos com ele. Segunda coisa: quando desastres de grandes proporções acontecem decorrentes de falhas humanas (como aconteceu no caso de Brumadinho) nada do que foi dito anteriormente nos impede de pedir justiça e de querer que os culpados sejam responsabilizados.
E a terceira e última coisa: é preciso reconhecer que a revelação bíblica é suficiente, mas não é exaustiva. Nós não temos todas as respostas para todas as perguntas que se levantam quando um desastre destes acontece. Não sabemos os propósitos maiores e finais de Deus com aquela tragédia. Só a eternidade revelará isso. Temos que conviver com a falta destas respostas neste lado da eternidade.
Mas, é preferível isto do que aceitar respostas que venham a negar o ensino claro da Bíblia sobre Deus, como por exemplo, especular que ele não existe, ou que, se existe, que ele não é soberano e nem onisciente e onipotente.
Posso não saber os motivos específicos das tragédias, mas me consola saber que Deus é justo, bom e verdadeiro, e que todas as suas obras são perfeitas e retas, e que nele não há engano, verdades inquestionáveis reveladas na Bíblia e atestadas por todo aquele que crê em Jesus Cristo.
Nossa oração diante do terremoto em Myanmar
Portanto, buscando coerência com a Palavra de Deus nossa oração, neste momento, é para que:
- Deus levante homens e mulheres para levar ajuda humanitária a Myanmar e à Tailândia nos locais atingidos pelo terremoto, de modo que os feridos possam ser tratados e curados e os prejuízos humanos e sociais sejam amenizados;
- Que Deus console os familiares que perderam seus entes queridos, confortando-os com Sua presença neste momento de luto e usando servos Seus para que possam chorar com os que choram e sofrer com os que sofrem;
- Que Ele possa livrar a população desses locais de novos desastres naturais, protegendo-os e guardando-os de todo o mal;
- Finalmente, que mesmo esse momento difícil possa ser usado por Deus para cumprir seus propósitos eternos, de revelação e conhecimento de Sua pessoa e de salvação eterna.
Assim como Jesus orou diante do sofrimento no Jardim do Getsêmani, antes de sua morte expiatória pelos pecados dos homens (Mt 26.29), também somos levados a orar nessa hora:
“Pai, se for possível, faz conforme nós pedimos; contudo, não seja como nós quero, mas sim como tu queres. Pois seus caminhos São mais altos do que os nossos e a Sua vontade é a melhor para nós”. Amém.
Que Deus te abençoe abundantemente e que você tenha um final de semana maravilhoso na graça, na paz e na presença inigualável do Senhor Jesus.
Até a próxima terça-feira com mais um Fé Pública.
¹ NICODEMUS, Augustus. A tragédia de Brumadinho e Deus. Voltemos ao Evangelho. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2019/01/a-tragedia-de-brumadinho-e-deus/>. Acesso em 28 mar 2025.