
Chegou ao fim a segunda temporada de Ruptura, produção da Apple TV+ que virou um fenômeno entre os fãs de cultura pop. Com mais altos e baixos do que a temporada de estreia, os dez episódios lançados em 2025 confirmam a fama de “uma das melhores séries da atualidade”, respondendo de forma satisfatória algumas das principais questões levantadas pelo seu complexo e intrigante roteiro, mas fica uma faísca de dúvida se vai conseguir fechar todas as pontas que deixou pelo caminho.
Esse texto contém spoilers da 2ª temporada de Ruptura
Reflexões mais profundas
Na primeira temporada, três grandes pontos ocupavam as teorias sobre a série: a crítica às relações de trabalho, já que o chip da ruptura tinha como maior propaganda a separação entre a vida corporativa e a “vida real”; a natureza das atividades executadas pelos internos e o verniz de seita religiosa que cerca a Lumon enquanto instituição.
A segunda temporada veio para nos mostrar que, apesar de tentarmos responder essas questões, existe um aspecto que está lá desde o primeiro episódio e ele, sim, é o principal e o mais difícil de solucionar: após o procedimento de ruptura, cria-se uma pessoa? Os internos podem ter autonomia, já que têm consciência própria?
Os novos episódios nos apresentaram cenários e contextos fora da Lumon, o que nos afastou das questões mais existenciais relacionadas aos internos. Todo esse distanciamento teve seu propósito, que foi chegar no ápice da temporada e ser surpreendido pelas escolhas dos protagonistas. Mas será que deveríamos estar tão chocados?

Mark S. percebeu que, na hora do vamos ver, ninguém ia escolher ele ou os internos para serem salvos, nem dentro da Lumon, nem fora e muito menos os seus próprios externos. O texto de Ben Stiller e Dan Erickson nos guiou para desvendar os mistérios da empresa, denunciar os abusos da instituição, encontrar referências sobre o passado, mas isso, aos poucos, nos junta ao pensamento predominante daquela realidade fictícia: os internos são “menos importantes” no cenário geral.
Para derrotar a grande corporação, expor as atrocidades cometidas por décadas e salvar Gemma, por exemplo, o apagamento dos internos é um efeito colateral aceitável, mesmo que isso não seja verbalizado. E é aí que Ruptura nos pegou desprevenidos. Quanto mais simpatia com a história de Gemma e Mark Scout, mais perto nós estávamos de aceitar o desligamento de Mark S.
Foi um grande truque em que o mágico estava te distraindo com movimentos insinuantes e palavras calculadas, enquanto roubava seu relógio para colocar dentro da cartola.
Problemas de ritmo
O ritmo da temporada foi a principal queixa para quem estava sedento por respostas. O grande atrativo de Ruptura sempre foi incitar questionamentos profundos, até estranhos, mas chega uma hora em que as respostas são necessárias, sendo cansativo deixar para descobrir tudo apenas no final.
O formato de lançamento por episódios semanais pode ser um inimigo em séries desse tipo. É criada muita expectativa sobre determinados mistérios, o espectador tem que esperar uma semana até o próximo episódio e, no fim das contas, é surpreendido com ainda mais dúvidas.
Ao sugerir muitas interrogações e dar tempo para o público teorizar, é assinado o compromisso de entregar respostas à altura, o que não aconteceu na segunda temporada de Ruptura. As soluções oferecidas foram visualmente interessantes, logicamente amarradas, mas foram poucas. Ainda existem muitas, muitas coisas para explicar e existe um risco de ter que acelerar muito o passo na reta final da trama.
Ruptura está andando em uma linha fina onde outros grandes sucessos já passaram, como Lost e Game of Thrones, e o desfecho dessas duas séries foi duramente rejeitado pelos fãs, algo que pode muito bem acontecer aqui.

Tecnicamente impecável
Ruptura continua sendo um deleite para os fãs e até alguns clichês do audiovisual são realizados de forma belíssima – como uma linha literalmente sendo ultrapassada para enfatizar o momento psicológico de certo personagem, por exemplo.
A fotografia fria e sufocante do ambiente de trabalho na Lumon se mantém mesmo quando assistimos a cenas em céu aberto, com takes mais amplos da cidade. É claustrofóbico se colocar no lugar de qualquer pessoa nessa trama, pois a sensação de observação e controle é constante.
Também é irretocável o cuidado para diferenciar a forma como os flashbacks são apresentados, mudando até a direção de alguns episódios para que a perspectiva seja diferente não só para os personagens, mas para o público. O sétimo episódio (Chikhai Bardo), por exemplo, é comandado por Jessica Lee Gagné, diretora de fotografia da série, e explica o passado de Gemma e Mark por meio de cenas mais vivas, cores mais vibrantes e atuações mais leves.
O contraste com o oitavo episódio (Doce Vitríolo) é gritante, quando conhecemos a cidade em que Harmony Cobel nasceu e que foi destruída pela Lumon e pelo seu legado perverso. Apesar de estar longe do andar da ruptura, a cidade emana a mesma energia opressora.

Renovação confirmada
Ruptura teve a sua renovação para a terceira temporada confirmada pela Apple TV+. Ainda não há previsão de estreia, mas os produtores já sinalizaram que o intervalo será menor do que os três anos que dividiram as duas primeiras.
A expectativa é que os novos desafios apresentados no season finale ganhem destaque na sequência dos acontecimentos, mas o desejo é que os mistérios antigos e personagens secundários super interessantes também sejam tratados com a devida atenção.
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