
Sob coordenação da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos (SP), um grupo com mais de 70 especialistas de instituições brasileiras pretende padronizar os critérios que definem o que são pastagens degradadas e, com isso, aprimorar a aplicação e a avaliação de políticas públicas voltadas à recuperação das áreas.
Neste mês de março, eles se reuniram, durante três dias, na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), de onde saíram com uma versão preliminar de um sistema integrado para diagnóstico e monitoramento das pastagens.
Esta foi a primeira etapa para a criação de um protocolo que deve ser finalizado até junho deste ano e que prevê estabelecer, também, conceitos para diferentes regiões do país. Segundo Patrícia Menezes Santos, pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste e coordenadora técnica da iniciativa, esse processo é necessário devido às divergências de entendimento sobre as condições das pastagens no Brasil.
“Um exemplo é que o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] aponta que o País tem 11 milhões de hectares de pastagens degradadas. Já dados de satélites mostram que são 100 milhões. Isso provoca uma grande dificuldade de definir as metas das políticas. Como é que se estabelece uma meta que está entre 11 e 100?”, questiona.
Patrícia explica que a diferença acontece pela discrepância das metodologias. Um levantamento se volta apenas para áreas severamente degradadas, enquanto o outro inclui aquelas que estão passando por degradação. “São conceitos diferentes. É como uma casa que, se você não der manutenção, vai chegar um ponto em que ela se degradou por completo. Agora, o processo de degradação vai acontecendo com o tempo. No caso do pasto, pode ser uma não reposição de nutrientes, quando se observa uma queda de produtividade, o início de um processo de erosão”, afirma. “As pessoas misturam os dois conceitos e o resultado é essa diferença nos métodos de avaliação”.
Patrícia afirma que a compreensão varia, ainda, conforme a região. Uma pastagem avaliada com falta de vigor não está, segundo ela, necessariamente degradada. Pode ser uma característica do ambiente de determinado local. “Isso tudo já vem sendo discutido na academia, mas a gente precisava juntar atores diferentes para chegar a um consenso”, declara a pesquisadora.
Quando estiver concluído, o protocolo será submetido a uma validação científica e melhorado continuamente, segundo Patrícia. “A área de pastagens é muito grande no Brasil e envolve uma série de questões ambientais. Há uma pressão muito grande pelo não desmatamento e as discussões sobre esse tema vão ter uma importância enorme sobre o que vai ser a agricultura”, conclui Patrícia.

Sensoriamento remoto e pegada de carbono
Uma das instituições envolvidas nas discussões é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), com sede em São José dos Campos (SP). O pesquisador Claudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento BiomasBR, lembra que o instituto já é parceiro da Embrapa no projeto chamado TerraClass, que observa as regiões desmatadas e como essas áreas têm sido usadas. O monitoramento desse programa abrange 75% do território nacional e se concentra em dois biomas: Amazônia e Cerrado, onde se encontram de 60% a 65% das pastagens nacionais.
Segundo Almeida, a elaboração de um protocolo para uniformizar o entendimento sobre o assunto permitirá comparar os dados coletados em campo com os obtidos pelo INPE por sensoriamento remoto, com satélites, e, com isso, avaliar possíveis limitações do sistema e a necessidade de melhorá-lo.
“O sensoriamento remoto, por exemplo, não capta quando a pastagem está sofrendo uma invasão por outro tipo de vegetação. Isso só se vê no campo. Então, quando os parâmetros sobre o que é pastagem degradada estiverem definidos, nós poderemos pensar: “O que vamos fazer? Usar um algoritmo novo?”. De forma que, quando houver uma mudança no campo, a gente consiga ver no sensoriamento remoto”, diz.
Para o pesquisador, o consenso será relevante para desenvolver linhas de crédito destinadas à recuperação de pastagens no Brasil e aprimorar programas já existentes, como o Plano ABC+, o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD) e a Taxonomia da Sustentabilidade. “Não existem políticas públicas se os dados não forem transparentes. E, se não houver padronização, não é possível avaliar se uma política pública gerou o efeito desejado em uma região”, afirma.

A Embrapa Meio Ambiente, que também integra a proposta, contribui com análises sobre a sustentabilidade (pegada de carbono) dos critérios a serem estabelecidos pelo protocolo. A pesquisadora Marina Folegatti explica que o cálculo de emissões e remissões é feito a partir de métricas amparadas em validações internacionais, que permitem estimar, de forma bastante precisa, se um sistema sequestra ou não da atmosfera gases que aumentam o efeito estufa.
Marília explica que a Embrapa já faz levantamentos para a soja, o milho e a cana-de-açúcar, e que o modelo para pastagens, que será usado para avaliar o balanço de carbono da pecuária, está em construção. “Conforme se melhora a pastagem, esse balanço tende a ser positivo, mas precisamos desse ponto zero [padronização do entendimento sobre o que é pastagem degradada] para que o projeto da pecuária possa avançar”, conclui.
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