Chuvas já levaram mais de 100 municípios a estado de emergência neste verão

A cidade mineira de Ipatinga foi atingida por uma tempestade na madrugada de 12 de janeiro. O deslizamento causado pela chuva matou 11 pessoas. Quase duas semanas depois da tragédia, cerca de 160 seguem desabrigados e mais de 1,67 mil estão desalojados, de acordo com a Defesa Civil do município. Mais de 500 casas foram interditadas. 

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Infelizmente, Ipatinga não foi a única a sofrer com os efeitos das chuvas de verão. Mais de 100 municípios já decretaram situação de emergência por enchentes e alagamentos desde o início da estação, em 21 de dezembro. 

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Até 13 de janeiro, eram 94 os municípios em situação de emergência — a maioria localizados no Sudeste. Desde então, mais cidades entraram na conta, em Estados como Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e outros, que também registraram deslizamentos de terra, desabamentos, imóveis inundados e ruas alagadas por causa dos temporais. 

Mesmo em locais onde a chuva forte foi apenas pontual, houve danos de longo prazo. Em Ipatinga, a prefeitura declarou estado de emergência por 180 dias. 

Um panorama da situação em Ipatinga 

O prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes (PL), disse que ainda é cedo para avaliar todos os estragos. Até agora, a prefeitura calcula que o prejuízo supera R$ 500 milhões. A Defesa Civil do município tem ampliado as interdições e insistido na desocupação de imóveis em locais específicos vistoriados, que apresentam situação de risco. 


A gestora de projetos Ariadne Mynssen esteve presente no socorro às vítimas, junto à Aliança Evangélica, que montou uma base no local pouco tempo depois da tempestade. Ela conta que a água atingiu regiões da cidade que nunca antes haviam sido afetadas pelos alagamentos. 

Enquanto a atuação da Aliança no Rio Grande do Sul no ano passado durou de março, quando as enchentes aconteceram, a dezembro, bastaram duas semanas em Ipatinga. Além da proporção significativamente reduzida do impacto da chuva — no Rio Grande do Sul, cerca de 80% do Estado ficou debaixo d’água —, houve rápida e suficiente resposta do poder público local, diz Ariadne. 

“A prefeitura fez um trabalho incrível”, diz ela. “Foram muito rápidos na resposta, eles têm atuado com uma agilidade e um entusiasmo, no sentido de quem está trabalhando por sua terra, por seu povo.”


Um dia depois da chuva, a prefeitura confirmou um decreto para permitir que Ipatinga faça um depósito financeiro nas contas das pessoas prejudicadas. Na ocasião, o prefeito Gustavo Nunes também anunciou o pagamento de aluguéis sociais para as famílias desabrigadas e o envio de donativos como água mineral e alimentos. 

Na mesma semana, a administração municipal providenciou um abrigo para os animais de estimação dos desabrigados. A Seção de Controle de Zoonoses (SCZ) e o Centro de Acolhimento Transitório de Animais (CATA) da prefeitura abriram o abrigo temporário no dia 14. 

Já o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), anunciou um adiantamento de repasses assistenciais a Ipatinga. Ele também disse que o Estado pediria às companhias de água e energia elétrica que suspendam a cobrança de contas e parcelem a dívida dos afetados pelos temporais.


O governo também solicitou ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais a criação de duas linhas de crédito ligadas a tragédias naturais.

Dessa forma, mediante o diálogo com o poder público, a Aliança Evangélica entendeu que teria o papel de “apenas” reforçar o suporte inicial às vítimas da chuva. “Quando a gente chegou em Ipatinga e tivemos algumas conversas com o setor público, eles mesmos falaram: ‘olha, graças a Deus, Minas Gerais tem um povo muito generoso’ e já estavam com mil voluntários”, diz Ariadne. 

Assim, o trabalho mais urgente para a Aliança era conseguir donativos, principalmente colchões — necessários tanto para os abrigos quanto para as famílias liberadas para voltar para suas casas. A organização conseguiu contribuir com 100 colchões e 80 travesseiros, a partir das doações financeiras que recebeu. Os voluntários do grupo também atuaram na limpeza de imóveis, apoio psicológico e doação de itens como medicamentos e móveis.  

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O rastro das chuvas no restante do Brasil 

Em Santana do Paraíso, também no Vale do Aço de Minas Gerais, o prefeito Bruno Morate (Avante) cancelou as festas de Carnaval, aniversário da cidade e um tradicional festival gastronômico depois da maior chuva já registrada na cidade. Os recursos que seriam destinados aos eventos, estimados em mais de R$ 1 milhão, serão redirecionados para ações de reparação de danos. 

Em Santa Catarina, 13 cidades declararam estado de emergência, inclusive Florianópolis. Havia mais de 300 pessoas desabrigadas e quase mil desalojadas até o início desta semana. A prefeitura da capital estima o prazo de 90 dias para restaurar a cidade ao estado anterior à enchente. 

Fenômenos do tipo não são novidade. O verão brasileiro raramente não vem acompanhado de algum registro de inconveniência ou desastre por causa da combinação entre as chuvas e a infraestrutura das cidades. Nesta sexta-feira, 25, por exemplo, linhas de metrô de São Paulo foram invadidas por enxurradas. 


Apenas em novembro passado, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) identificou que cerca de 34,5 mil brasileiros foram afetados por desastres relacionados às chuvas. Nesse período, foram registrados 54 decretos de situação de emergência, com prejuízos econômicos estimados em R$ 79,4 milhões. 

Ao longo de janeiro, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu o estado de emergência declarado por vários municípios. Em Minas Gerais, há 74 reconhecimentos vigentes em razão de chuvas intensas. 

Com esse tipo de validação do governo federal, as prefeituras podem solicitar recursos da União para ações de Defesa Civil. O repasse financeiro potencializa a compra de cestas básicas, água mineral e outros donativos para voluntários e vítimas das chuvas. 


No início desta semana, a Defesa Civil Nacional deflagrou uma missão em campo de técnicos para apoiar os municípios mais atingidos pelas chuvas. As equipes passaram por cidades de Minas Gerais, Bahia e do Piauí, com objetivo de auxiliar na gestão e coordenação de ações emergenciais, de acordo com o comunicado do MIDR. 

A CNM alerta que, embora a Lei que rege o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil determine que a União, Estados, Distrito Federal e municípios devem atuar de forma articulada para reduzir os riscos, na prática, os municípios enfrentam dificuldades para cumprir suas responsabilidades. 

“Um dos principais desafios é a falta de apoio técnico e financeiro para mapear áreas de risco e produzir alertas antecipados, tarefa essencial para a elaboração e execução dos planos de contingência”, diz a confederação.

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A Aliança Evangélica tem igualmente reforçado a necessidade de planejamento antes que as chuvas venham. “Cada vez mais fica mais claro que temos que trabalhar a prevenção também”, diz Ariadne Mynssen. O grupo tem desenvolvido um projeto para capacitar igrejas e organizações a se prepararem efetivamente para prevenir desastres do tipo.

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