Política Agrícola: Câmbio e China

política agrícola

Muita gente já ouviu falar dos “se´s” da política agrícola: “se” São Pedro ajudar; “se” o dólar subir; “se” acontecer uma geada, “se” o banco der mais crédito etc.  Já a análise dos “cê´s” da atividade produtiva rural fica mais restrita aos especialistas do setor, cada um com o seu conjunto preferido de temas.

Meus “cê´s”, sempre foram, por ordem de prioridade: Câmbio, China, Clima e Crédito. Posteriormente passei também a mencionar Coordenação. Neste texto vou me ater aos “cê´s” Câmbio e China.

Como a safra brasileira tem uma dependência muita grande de fornecedores e compradores externos, os produtores de médio e grande porte que desde os anos 1990 passaram a utilizar a “soja verde” e mais tarde os contratos “barter” (com ou sem vinculação de Cédula de Produto Rural – CPR) têm sua liquidez e sua capacidade de pagamento bastante prejudicadas quando o dólar americano sobe abrupta e fortemente, em especial se o produtor já entregou boa parte da sua colheita e:

  • os compromissos em dólar (mesmo em real, mas com taxa pós-fixada) estão vencendo; e/ou,
  • os insumos para a próxima safra não foram comprados.

A partir dos anos 2010, o meu “cê” de Câmbio passou a ter uma maior abrangência: inclui também a variação expressiva, em desfavor do produtor, da relação preço do produto e preço dos insumos, mesmo não havendo flutuação do dólar.

Nessas crises de Câmbio (moeda e permuta), a política agrícola deve proporcionar liquidez para os credores, de modo que possam diluir os pagamentos devidos pelos produtores, na safra em curso e nas safras seguintes.

É uma solução simples, ágil e não onerosa, se os juros praticados forem positivos. Mas como por questões eleitorais não se aceita o uso de taxas naqueles patamares, acaba que o Tesouro Nacional é chamado para subsidiar. Com isso, as linhas de crédito demoram a ser disponibilizadas, não têm recursos suficientes, são burocráticas.

Outra medida que seria muito conveniente também utilizar é mais complexa e polêmica: estabelecer uma “câmara de compensação” Brasil/China, envolvendo inicialmente apenas grãos/decorrentes e seus insumos, com o uso de contratos de compra e venda plurianuais e de mecanismos de controle e redistribuição da volatilidade da relação preço do produto e preço dos insumos. Seria institucionalizar o atual “use os insumos e devolva na forma de grãos/carnes/derivados”.

A grande dificuldade será a resistência dos operadores internos à prática de maior transparência nas relações contratuais e nos preços praticados.

O Brasil “fidelizar” a China, e vice-versa, também reduziria a vulnerabilidade que o nosso país tem perante os Estados Unidos que podem, a qualquer momento, reduzir seu compromisso de utilização de biocombustíveis e inundar o mercado internacional com grãos, deprimindo os preços. Alguém duvida que o tesouro americano “Mike Tyson” é mais forte que o tupiniquim (Adilson Maguila)?

Produzir proteína em larga escala, como se propõe o Brasil, implica ficar mais exposto à dependência que o câmbio e o comércio internacional têm com relação à situação geopolítica.

Até quando será possível manter o status quo de não alinhamento com os Estados Unidos ou a China?

Muitas poderão ser as respostas, mas todas terão que considerar o fator presidente Trump e a sua capacidade de blefar e de pagar para ver. O Trump inexperiente e sem liderança parlamentar do primeiro mandato não é o Trump de 2025: agora ele terá maioria na câmara, no senado e na suprema corte. Antes de tomar posse está rugindo para todos os países: China, União Europeia, Rússia, Brasil (até o Canadá!). Até onde ele irá?

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