Por que apenas poucas casas resistiram ao fogo na Califórnia?

Os incêndios florestais que atingem Los Angeles desde a semana passada já destruíram ou danificaram mais de 12.300 construções, conforme informações do Departamento Florestal e de Proteção Contra Incêndios da Califórnia (Cal Fire).

Entre os questionamentos que surgem em meio ao fogo está: afinal, por que construir casas com madeira em um local que sofre com incêndios? As construções das residências estão relacionadas com fatores culturais e econômicos.

O método de construção das casas na América do Norte é bem diferente se comparado ao do Brasil, por exemplo. Na América do Sul, é normal vermos casas que foram construídas com tijolos, argamassa e concreto. Nos Estados Unidos, as residências têm uma estrutura leve, geralmente de madeira e um fechamento com placas de gesso acartonado.

Entre as residências atingidas, muitas pertenciam a famílias há gerações, e algumas pessoas perderam suas vidas tentando proteger seus lares. Apesar da devastação, algumas casas surpreendentemente resistiram às chamas, permanecendo intactas em meio ao cenário de destruição.

Casas resistentes às chamas

Segundo o Canal Egenharia, as casas que sobreviveram ao fogo têm algo em comum: elas são feitas de concreto ou alvenaria. Assim, elas têm pouca, ou quase nenhuma, parte da estrutura de madeira exposta.

A estrutura de alvenaria é muito mais resistente ao fogo. Já as casas de madeira viram um combustível para as chamas. O concreto pode sofrer efeitos do calor intenso como, por exemplo, deslocamento e perda de resistência, porém, é necessário horas e horas de fogo intenso.

Para se ter uma ideia, uma estrutura de concreto aumenta muito as chances de sobreviver a eventos parecidos com que está acontecendo na Califórnia.

Apesar de serem resistentes, por que a estrutura não é adotada como padrão nas construções, pelo menos em regiões propensas a incêndios?

Construção americana

Desde o início da colonização americana, os ingleses se depararam com uma grande oferta de madeira espalhada pela região. Conforme foi passando o tempo, os estadunidenses se desenvolveram tecnologicamente em técnicas construtivas. Assim, o sistema se mostrou ser muito mais vantajoso em diversos outros aspectos considerados essenciais para os americanos.

O primeiro deles é o custo. Para os americanos, é muito mais barato construir com madeira. A indústria já está completamente adaptada e dedicada a esse método construtivo, assim como a mão de obra nos Estados Unidos, o que acaba saindo mais barato do que construir com alvenaria. 

O segundo ponto essencial a ser abordado é a eficiência térmica da madeira. Como os Estados Unidos é uma região que pode chegar a temperaturas congelantes, a madeira se torna um isolante térmico natural e a técnica de wood frame facilita a aplicação de uma camada adicional de isolamento.

O sistema também ajuda diante a eventos sísmicos como terremotos. A Califórnia está exatamente em cima de uma das maiores falhas geológicas sismicamente ativas do mundo: a falha de San Andreas. Com isso, a região pode ser atingida por tremores a qualquer momento.

Edificações construídas em madeira são muito mais flexíveis do que estruturas em alvenaria. Em caso de tremores extremos, as edificações em alvenaria podem colapsar e causar danos muito maiores aos ocupantes do que nas casas com estruturas leves de madeira.

Mudanças que fazem a diferença

Especialistas destacam que as residências não precisam ser contemporâneas para resistir aos incêndios, desde que se adaptem a medidas de proteção.

“Se você reformar uma casa, pode fazer todas essas mudanças para torná-la resistente ao fogo. A maioria das pessoas, no entanto, prioriza uma cozinha nova ou um banheiro”, explicou Clive Dawson, arquiteto que atua em Malibu há 40 anos, em entrevista ao jornal O Globo.

Dawson relatou que em um trajeto recente viu cinco casas de pé, três delas projetadas por ele, e afirmou que “não houve nenhuma casa atualizada para o padrão mais recente que tenha sido queimada”.

Dawson e Chasen, que é seu genro, aplicam estilos diferentes em suas construções, mas ambos concordam que a direção do fogo e os materiais externos são cruciais. Dawson recorda que uma casa de 1980 projetada por ele foi a única a sobreviver ao incêndio Woolsey, em 2018, graças ao design e materiais escolhidos.