Incertezas e otimismo: produtores de soja encaram clima em busca de safra recorde

foto: lavoura em São Gabriel (RS), Douglas Vink

As variações climáticas têm marcado o início dos trabalhos de colheita da safra de soja 2024/2025 no Brasil. Em algumas regiões, o excesso de chuva preocupa os agricultores. Já em outras, a falta de umidade acende um alerta quanto aos efeitos futuros na produtividade. 

No município de Sorriso, em Mato Grosso, o clima contribuiu para o bom desenvolvimento das lavouras. Porém, agora na reta final, houve uma inversão de cenário, com acumulados significativos de chuva atrapalhando os trabalhos. 

Um dos produtores rurais afetados é Laércio Lenz, que tinha planejado iniciar sua colheita na segunda-feira, 13, mas a chuva impediu a entrada das máquinas no campo. “Quando as máquinas estavam se ajeitando para ir para a lavoura, choveu, e estávamos na expectativa de sol. Então, estou no aguardo do clima, agora”, afirmou Lenz. 

Ao Agro Estadão, o agricultor contou ter investido para colher entre 65 a 70 sacas por hectare. Ele destacou o custo elevado da atual safra, devido à valorização do dólar, que refletiu nos valores dos insumos comprados, das peças e maquinário e também no diesel. “Nós temos uma safra que precisamos ter bastante grão para poder dar rentabilidade. Então, estamos dependendo agora dessa janela de colheita, que agora nos próximos 30 dias é crucial”, destaca Lenz. 

Já no estado vizinho, Mato Grosso do Sul, a irregularidade climática é uma constante em Laguna Carapã. Segundo o produtor José Tarso, as chuvas foram mal distribuídas nessa região mais ao sul do estado, resultando em déficit hídrico em diversas áreas. Essa situação afetou o ciclo da soja, antecipando a maturação e comprometendo os rendimentos em algumas localidades, especialmente nas lavouras plantadas mais cedo. 

“Normalmente, a colheita aqui na nossa região é entre o final de janeiro e início de fevereiro e, por conta desse déficit hídrico e altas temperaturas, esse ciclo da lavoura de soja encurtou. Então, essas primeiras colheitas, tiveram uma maturação forçada. E as produtividades também, em consequência disso, caíram”, explicou Tarso. Inicialmente, ele estimava colher cerca de 70 sacas por hectare, entretanto, acredita que este número será revisto, a depender do clima dos próximos dias.

Otimismo em Santa Catarina

Em Santa Catarina, o clima leva boas perspectivas aos produtores – apesar da falta de umidade no extremo oeste do estado, próximo da divisa com a Argentina. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja do estado (Aprosoja-SC), Alexandre Di Domênico, disse ao Agro Estadão não acreditar em grandes perdas na safra de grãos catarinense. 

“É uma safra que vem correndo bem, com um pouco de estiagem no oeste que está chegando a prejudicar, mas a nossa região aqui, Campos Novos, está correndo bem e promete ser uma boa safra”, destacou Domênico. “Acredito que não vamos ter grandes perdas, as lavouras estão se desenvolvendo muito bem e o milho também em Santa Catarina está com lavouras muito boas”, ressalta.

Apreensão no Rio Grande do Sul

A estiagem deixa os agricultores apreensivos no Rio Grande do Sul. O produtor rural Josemar Rubin Stefanello, que plantou 600 hectares de soja em Boa Vista do Cadeado, relata a ocorrência de chuvas pontuais. Considerando um raio de 20 km, ele diz que é possível ter precipitações de 50 milímetros ou nenhuma gota d’água. “O grande problema é que são chuvas localizadas, que não pegam uma quantidade muito grande de hectares, então aqui, por exemplo, a minha situação, a minha lavoura está começando a sentir o efeito da chuva pingada”, diz Stefanello. 

Segundo o produtor, desde a última semana, as lavouras dele começaram a apresentar sinais de branqueamento no momento do sol forte, mas elas se recuperam e voltam ao normal ao entardecer. No entanto, em propriedades de vizinhos próximos, a situação é mais crítica, com as plantações começando o dia murchas, sem conseguir reagir depois.

Em São Gabriel, na região da campanha gaúcha, as condições foram favoráveis à implantação das lavouras. Porém, houve um encurtamento das chuvas a partir do início de dezembro, comprometendo o desenvolvimento das áreas. O agricultor Douglas Vink conta que, apesar das perdas acumuladas nos últimos anos, principalmente, na safra passada pelo excesso de chuvas, ele iniciou a safra atual com expectativas elevadas. “A soja estava bem estabelecida, vinha muito bem, e estávamos confiantes. Porém, as chuvas pararam e, agora, já temos perdas consideráveis. Cada dia sem chuva aumenta nossa preocupação e as perdas são maiores”, salienta Vink. 

Vink destaca que a última safra realmente lucrativa foi a de 2021. Desde então, os desafios climáticos têm sido constantes. “Em 2022, 2023 e 2024, seguimos insistindo na lavoura. A gente tinha uma grande expectativa nesta safra para poder organizar de novo as contas, a estrutura e o caixa da fazenda, mas do jeito que está agora, está complicado. Então, acredito que essa safra é muito decisiva”, enfatiza o agricultor de São Gabriel (RS).

Falta de chuva também em Tocantins

Apreensão semelhante é sentida por alguns agricultores no Tocantins. “Determinadas regiões apresentam que vão ter uma produção melhor do que o ano passado, mas nós estamos tendo muitas regiões com falta de chuva, e isso tem afetado as lavouras e há uma preocupação dos associados”, informou a presidente da Aprosoja-TO, Caroline Barcellos. Segundo ela, o quadro deixa um “incógnita” em relação à produção de grãos do estado. 

Outro ponto de atenção no estado é em relação à armazenagem e ao escoamento da produção. Conforme Barcellos, a logística para escoar a produção até o porto de Itaqui, em São Luís (MA), preocupa, especialmente após o desabamento da ponte JK.

Projeções mantém safra recorde de soja 

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou nova estimativa para a safra 2024/2025 nesta terça-feira, 14. O Brasil deve colher 166,3 milhões de toneladas de soja, com destaque para o aumento na produtividade média. Segundo a Conab, o resultado esperado é de 3.509 kg/ha.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística também atualizou a estimativa de safra nesta terça. 

Na última semana, algumas consultorias também revisaram os números. A Safras & Mercado elevou a sua previsão em 14,1% sobre a temporada anterior. Projetando uma safra de soja em 173,71 milhões de toneladas. Na revisão, há alteração na produtividade, passando de uma média de 3.295 quilos por hectare para 3.678 quilos.

A Pátria Agronegócios também revisou os dados, projetando 167,94 milhões de toneladas de soja. O montante representa um corte de 2,47 milhões de toneladas frente à estimativa anterior da consultoria. Mas ainda assim, superior ao total colhido pelo Brasil na temporada passada — 147,7 milhões, de acordo com a Conab. A produtividade estimada é de 3.560 quilos por hectare, ante 3.201 da safra de 2023/24.

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