100 mil hectares de soja na palma da mão: como uma fazenda no interior do Piauí mudou a produção com conectividade

antenas

“O olho do patrão é que engorda o boi” é um ditado popular que pode ganhar uma nova interpretação com os avanços tecnológicos. No caso da Fazenda Serra do Ovo, em Santa Filomena (PI), a conectividade pode funcionar como o “olho do patrão”, e o boi, neste caso, é a soja. Com cerca de 9 mil hectares, a área é uma das arrendadas pela Sierentz Agro e, há quatro meses, conta com uma antena de internet que aproximou Christophe Akli da gestão do dia a dia da propriedade. 

“Você tem uma tomada de decisão melhor, um controle melhor, economia de combustível, você tem uma plantabilidade melhor; a gente vê as lavouras evoluírem e há muito menos erros no jeito que é plantado. Então, sim, a gente vê as evoluções”, comenta o CEO da Sierentz Agro, que consegue monitorar a semeadura da soja à distância e pelo tablet. 

A antena na fazenda da empresa é a primeira das 37 previstas no projeto feito em parceria entre a Case IH e a TIM. O foco são grandes áreas que ainda não contavam com conectividade. Na compra de aproximadamente R$ 20 milhões em máquinas agrícolas da Case IH, o produtor ganhava uma antena 4G instalada pela TIM. Só dessa colaboração entre as empresas, a expectativa é conectar 1 milhão de hectares. 

Os custos com a conectividade giram em torno de US$ 6 por hectare, conta Akli. Questionado se os gastos se pagam, ele revela que “seria impossível administrar” os 100 mil hectares que a Sierentz Agro emprega na atividade agrícola juntando todas as fazendas. “Seria impossível administrar se a gente não tivesse isso, do jeito que a gente administra, com velocidade, com controle, nada disso seria possível se a gente não tivesse essa conectividade no campo”, diz o CEO. O resultado é um faturamento na casa dos US$ 160 milhões na safra de 2023/2024. 

Fazenda Serra do Ovo. Foto: Case IH/Divulgação

TIM planeja ampliar conectividade em cooperativas

Segundo o Indicador de Conectividade Rural (ICR) da Associação ConectarAGRO, até setembro de 2024, cerca de 23,8% da área de uso agropecuário no Brasil tinha cobertura 4G ou 5G. Com essa perspectiva de impulsionar a internet no campo, o diretor comercial da TIM Brasil, Leonardo Belotti, aponta que a empresa de telecomunicação terminou o ano de 2024 com 20 milhões de hectares conectados e a intenção é apostar mais no agronegócio. 

“O agronegócio continua sendo um pilar estratégico”, comenta o diretor. Ele indica que uma das áreas de expansão deve ser na busca de parcerias com cooperativas agropecuárias. “Nós entendemos, sim, que existe boa oportunidade na expansão do pequeno e médio produtor nas cooperativas do agronegócio, principalmente, no estado do Paraná. Então, nós estamos desenvolvendo soluções para viabilizar conectividade para esses produtores”. 

Sobre uma possível concorrência com outros meios de conexão à internet, como a Starlink, Belotti diz que a empresa não vê esses provedores como concorrentes. “O que a gente vê são soluções diferentes. O 4G é uma solução aberta de cobertura, é um solução pública e de grande capacidade de cobertura”, afirma o diretor que também explica que a opção adotada pela empresa com antenas 4G de frequência de 700 MHz possibilita ampliar a área de cobertura.  

Trator conectado fazendo a semeadura. Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão

Mercado de máquinas

O ano de 2024 para o segmento de máquinas agrícolas não foi dos melhores. De acordo com o balanço mais atual da  Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o número de tratores e colheitadeiras vendidos de janeiro a outubro é 26,9% menor do que no mesmo período do ano retrasado. E na visão do diretor Comercial da Case IH Brasil, Denny Perez, 2025 não deve ser muito diferente. No entanto, o avanço das diferentes formas de conectividade pode ampliar o ramo dos maquinários inteligentes. 

“O mercado [de máquinas] como um todo vai ser muito parecido com 2024. Na parte de conexão, eu acho que a tendência é a cada dia aumentar. […] Então, toda máquina que a gente vende está disponível para a conectividade. Agora, a expansão da conectividade vai acontecer, eu acho, que de forma um pouco mais acirrada, mais rápida, porque hoje faz parte. Não tem mais como você não ter essa conectividade”, salienta Perez.

Mirando este horizonte, a empresa prepara novas parcerias. A próxima deve ser com a Intelsat, que fornece serviço de internet com uso de satélites – a mesma tecnologia utilizada para a conectividade oferecida pelas companhias áreas. O modelo de parceria vai ser parecido com o da TIM, onde o produtor compra um valor, ganha uma instalação e paga uma mensalidade pelo serviço de conexão. A diferença é que essas antenas também podem ser móveis e são destinadas para áreas mais remotas. 

“A gente tem focado também em outras tecnologias de conectividade para tentar expandir mais as máquinas. Essa [parceria com a Intelsat] seria para mais um tipo de antena que a gente está desenvolvendo e vamos lançar, provavelmente, a partir do segundo quarto de 2025. Como é um satélite de alta órbita, tem uma conexão maior em termo de distância, ou seja, você consegue ter uma abrangência maior e não perder tanto o sinal”, projeta o diretor. 

*Jornalista viajou a convite da Case IH e da TIM

O post 100 mil hectares de soja na palma da mão: como uma fazenda no interior do Piauí mudou a produção com conectividade apareceu primeiro em Agro Estadão.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.