Aposta no cacau incentiva turismo rural e fabricação de chocolate no noroeste paulista

cacau

Agricultores de Mendonça (SP), a pouco mais de 60 km de São José do Rio Preto, se preparam para colher a primeira safra de cacau. Os frutos já crescem nas árvores, resultado de um trabalho iniciado pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) e que tem ganhado incentivos com estratégias de agregação de valor, como a fabricação de chocolates artesanais e o turismo rural.

O município, de pouco mais de seis mil habitantes, descobriu o potencial desse novo negócio no ano passado, por meio de um projeto que estuda a implementação da cultura na região noroeste paulista há pelo menos dez anos.

Em 2014, a CATI estava preocupada com os baixos preços pagos pelo látex, matéria-prima da borracha, o que deixou o cultivo de seringueiras, tradicional na região, em crise financeira. Surgiu, então, uma parceria com a Associação Comercial de Rio Preto (ACIRP) e apoio da Fundação Cargill e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para experimentar o cacau. Afinal, as condições climáticas do noroeste paulista são semelhantes às do sul da Bahia, maior produtor brasileiro, com cerca de 70% dos frutos colhidos no país. 

No início, a proposta gerou desconfiança, já que, na década de 1970, o estado já havia produzido cacau, no Vale do Ribeira e no Litoral – que, juntos, somavam 700 hectares. Naquela época, o fomento à atividade era dado pelo Programa de Expansão do Cacau em São Paulo (PECASP), que, aos poucos, perdeu força. Esse programa foi revitalizado pela CATI em 2014, com o nome de Cacau SP. Assim, o fruto passou a ser plantado na sombra das seringueiras, além de consórcios com o açaí e a banana. Deu certo. 

Segundo o coordenador da CATI, Ricardo Pereira, o cacau precisa de conforto térmico para se desenvolver – o que é garantido pelas áreas de sombra. No caso do consórcio com a banana, o mais usado na região, planta-se primeiro as bananeiras e, quando elas passam a dar sombras, o agricultor entra com o cacau. A plantação também exige uma espécie de quebra-vento. Para isso, a CATI sugeriu o eucalipto Corymbia torelliana.

“Com o sucesso do programa, o objetivo é retomar também as produções no Vale do Ribeira e no Litoral. Mas com uma diferença. Nesses lugares, não é necessária a irrigação. Já no noroeste do estado, sim”, afirma Pereira. 

Rota do Cacau

Em algumas cidades do entorno de Mendonça, como José Bonifácio e Tabapuã, já há frutos para oferecer. O reconhecimento de que o noroeste paulista reunia condições favoráveis para receber o fruto foi oficializado pelo MAPA em 2019, por meio do Zoneamento para Plantio de Cacau no Estado de São Paulo. Atualmente, o estado soma 400 hectares de cacaueiros.

A adesão de Mendonça ao programa não foi por acaso. Como o município integrava o programa estadual Cozinhalimento, que realiza cursos sobre alimentação saudável, tinha estrutura adequada para começar a produzir chocolates. A parceria liderada pela CATI cedeu mais alguns equipamentos, que foram disponibilizados pela Casa da Agricultura, em esquema de rodízio, para os interessados.

Foi lançada, também, a Rota do Cacau, que sai da Praça da Matriz e vai até o município vizinho de Adolfo, passando pelo bairro rural de Aiuruoca, em Mendonça, onde foram plantadas as primeiras 400 mudas de cacau. A escolha do bairro levou em conta as belezas naturais e históricas do lugar.

Como a primeira safra ainda é aguardada, os agricultores compram as amêndoas do fruto, que são processadas para virar chocolate, dos produtores de José Bonifácio e Tabapuã. A Prefeitura de Mendonça também adquire a matéria-prima para produzir barras de dez gramas de chocolate, que são distribuídas na merenda escolar de 15 em 15 dias.

A Coordenadoria Municipal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento promove cursos em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) sobre empreendedorismo, turismo rural e alimentos artesanais para famílias do Aiuruoca e de outros bairros, já prospectando a expansão da atividade para outras áreas de Mendonça.

Os cursos deram origem ao grupo de Mulheres Empreendedoras do Bairro Aiuruoca, que organiza cafés da manhã, visitas às lavouras, entre outras atividades. A expectativa, com o aumento do interesse turístico pelo município, aponta para a possibilidade de que outros agricultores invistam no fruto.

Chocolate artesanal

O cacau teria surgido nas Américas Central e do Sul, com os maias e astecas, há cerca de 4 mil anos. O Brasil tem, de acordo com o Mapa, 600 mil hectares plantados por 75 mil produtores, sendo 60% da agricultura familiar. Em 2023, as indústrias nacionais processaram 220 mil toneladas de amêndoas, aumento de 7% sobre o ano anterior. Mas o país ainda não é autossuficiente, o que abre espaço para novos incrementos.

Moradora do bairro Aiuruoca, a agricultora Simoni Fernanda Caldeira plantou, junto a mãe, Francisca de Fátima Denois Caldeira, 270 pés de cacau em consórcio com a banana. Dois mil metros quadrados foram disponibilizados para o experimento. As bananeiras foram plantadas em dezembro de 2023 e as árvores de cacau, em maio de 2024.

Em agosto, elas começaram a produzir chocolate artesanal na Casa da Agricultura. Desenvolveram uma marca, a “Denoá Cacau”, em referência ao sobrenome da mãe, pela qual fabricam 15 quilos por mês, comercializados por meio de parceiros. Oferecem cinco sabores e pretendem lançar mais dois. Também fazem nibs e chá de cacau. “Quando a plantação começar a dar frutos, queremos verticalizar a produção, o que vai permitir aumentar a quantidade de chocolate e também os pontos de venda”, afirma Simoni.

Diego Francisco Ferreira da Silva também apostou no negócio. Em fevereiro do ano passado, plantou mil cacaueiros em um hectare e planeja mais mil. Também consorcia com a banana, que já teve a primeira safra colhida. Sociólogo formado pela USP em São Paulo, voltou a Mendonça para se refugiar da Covid-19. Acabou ficando. Também iniciou a produção de chocolates, com a marca “Ju Cacau”, em homenagem à mãe, Jucileide, mas também tem interesses acadêmicos.

Junto com a CATI, desenvolve um projeto para analisar variedades e adubações mais adequadas. E quer fazer um mestrado sobre o perfil dos produtores de cacau da região. “Por causa do alto valor agregado e do manejo facilitado, o cacau é uma cultura interessante. Surge não apenas como fonte de renda, mas vem para ocupar uma lacuna que a região tinha para produtos com esses aspectos”.

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