Mais da metade das propriedades rurais gaúchas apresentam resistência a carrapaticidas

carrapato

Uma pesquisa da Secretaria da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Seapi) mostra que 58,2% das propriedades rurais gaúchas apresentam multirresistência a carrapaticidas. O estudo “Inquérito de prevalência da multirresistência a carrapaticidas no RS”, desenvolvido pelos Departamentos de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) e de Vigilância e Defesa Sanitária Animal (DDA) da Seapi, analisou 302 propriedades rurais em 120 municípios de diferentes regiões do estado.

Do total de propriedades que apresentaram multirresistência (176), 98% têm multirresistência a quatro ou mais carrapaticidas (173) e 71% possuem resistência a todos os testados (125). Segundo a Seapi, os carrapaticidas de cipermetrina, ivermectina e fipronil apresentaram maior índice de resistência entre os produtos analisados. 

Ao Agro Estadão, a médica veterinária e coordenadora do Serviço de Doenças Parasitárias da Seapi, Nathalia Bidone, disse que é preciso repensar as estratégias junto com a cadeia produtiva para combater o problema, especialmente as ações relacionadas às medidas obrigatórias de defesa sanitária animal.

“É necessário um maior uso das ferramentas existentes para tornar o manejo mais assertivo como, por exemplo, realizar testes de eficácia. Além disso, a parte fundamental do controle do carrapato é a atuação de médicos veterinários, capacitados para tratar do tema. Sendo assim, outro âmbito de atuação da Seapi pode ser a promoção de capacitações acerca do tema”, reforça. 

Multirresistência está ligada ao uso excessivo de carrapaticidas

A pesquisa revela que o uso de carrapaticidas além do indicado (no máximo cinco vezes ao ano) aumenta a incidência de carrapatos com maior resistência ao pesticida. “A resistência é um processo natural intrínseco aos parasitas, mas ela pode ser acelerada quando se registra uma grande utilização de um produto ou de um princípio ativo”, destaca a veterinária Nathalia Bidone. 

Os dados também mostram que a forma de escolher o produto pode não ser a mais adequada. Apenas 1% dos produtores escolhem o carrapaticida por testes de eficácia, enquanto a maioria escolhe por indicação de terceiros ou conhecimento próprio (45%) e apenas 38% por recomendação do veterinário.

Os resultados também revelam que quanto maior a propriedade, maior o índice de multirresistência ao produto. Além disso, o uso de formulações injetáveis aumenta em cinco vezes a chance de multirresistência. Segundo Bidone, ainda não há respostas sobre as causas dessa relação do tamanho de propriedade e o uso de formulações injetáveis com o aumento da resistência. “Temos apenas suposições, portanto, não é possível afirmar algo sobre estes achados”, explica.

A coordenadora do Serviço de Doenças Parasitárias da Seapi afirma que a secretaria vai manter as ações que envolvem o DDA e o DDPA, com apoio do laboratório de Parasitologia do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF). Entre as iniciativas estão reuniões, seminários, dias de campo, palestras, experimentos e assistência aos produtores, com o apoio da Emater.

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