Embrapa desenvolve novas cultivares de porta-enxertos de maracujá resistentes à fusariose

maracujá

A Embrapa Cerrados, em parceria com a Coopernova, desenvolveu duas novas cultivares para uso como porta-enxerto em maracujá-azedo comercial.  A BRS Terra Nova (BRS TN) e BRS Terra Boa (BRS TB) foram validadas na região norte de Mato Grosso, onde a fusariose dizimou os maracujazeiros dos produtores associados à Coopernova a partir de 2008. 

O pesquisador em Genética e Biotecnologia da Embrapa, Fábio Faleiro, afirma que as novas cultivares são resistentes à fusariose. Ao Agro Estadão, ele explicou como funciona o processo de enxerto. “Em uma ou outra cultivar de porta-enxerto são enxertadas as cultivares copa, por exemplo, BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado, BRS Rubi do Cerrado (Passiflora edulis — maracujá-azedo comercial). Dessa forma, a muda enxertada vai ter o sistema radicular da cultivar BRS TN ou BRS TB e a parte aérea da cultivar de maracujazeiro azedo comercial”.

As novas cultivares são das espécies Passiflora nitida Kunth (BRS TN) e Passiflora alata Curtis (BRS TB). Elas foram as que melhor se adaptaram ao norte de Mato Grosso – principal região produtora do estado, além de apresentarem compatibilidade com as cultivares de maracujá-azedo (Passiflora edulis), manterem-se produtivas e, o mais importante, não apresentarem sintomas ou mortalidade por fusariose.

Apesar de possuir frutos comestíveis, com polpa branca doce e saborosa, a BRS TN não possui cadeia produtiva para comercialização estabelecida no Brasil. Já a BRS TB possui cadeia produtiva no país e seu fruto (maracujá-doce) pode ser encontrado facilmente nas gôndolas de supermercados.

Fábio Faleiro ressalta que o maracujazeiro azedo enxertado com as cultivares BRS TN e BRS TB possuem as mesmas características dos frutos obtidos de plantas cultivadas por sementes. “O diferencial é que as plantas enxertadas não morrem em áreas com histórico de fusariose, o que ocorre com as plantas obtidas por sementes”, explica.

Fusariose em Mato Grosso

A fusariose é uma doença fúngica provocada pelos fungos Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e Fusarium solani. Eles causam o entupimento do sistema vascular e a podridão das raízes, levando à morte prematura das plantas. Esses microrganismos estão presentes no solo e aproveitam lesões nas raízes para infectar o maracujazeiro. 

Segundo a Embrapa, o controle é difícil, já que não existem alternativas químicas nem outras estratégias eficazes para o manejo da doença. Além disso, o fungo pode sobreviver por muitos anos no solo, mesmo na ausência de plantas hospedeiras.

A fusariose foi identificada pela primeira vez na região de Terra Nova do Norte, no centro-norte matogrossense, em 2005. Desde então, a doença tem dizimado a produção de maracujá na região. Segundo a Coopernova, entre 2008 e 2009, mais de 300 cooperados produziam a fruta. Em dois anos, cerca de 90% deles abandonaram a atividade por causa da morte das plantas. 

Com a parceria da Embrapa e a cooperativa, a distribuição de mudas enxertadas já tem refletido na melhoria da produção. Dados do IBGE revelam que, em 2023, a área colhida de maracujá foi de 320 hectares, em 313 estabelecimentos rurais, gerando uma renda de R$ 27,8 milhões, R$ 10 milhões a mais do que em 2022. 

Segundo o pesquisador da Embrapa, “a tecnologia das cultivares de porta-enxerto resistentes à fusariose tem permitido o cultivo do maracujazeiro-azedo com sucesso, mesmo em áreas com histórico de ocorrência de fusariose. É uma esperança, principalmente para os pequenos produtores, que possuem as áreas de plantio do maracujá contaminadas pela fusariose”.

Enxertia de maracujá em outras regiões

A Embrapa também desenvolveu duas outras cultivares resistentes à fusariose:  BRSRJ MD, validada no Rio de Janeiro em condições de Mata Atlântica, e a UFERSA BRSRM 153, validada no Rio Grande do Norte e Bahia em condições do Semiárido e Cerrado. Elas devem ser apresentadas ao setor nos próximos meses.

“De um modo geral, existe muita variação nas condições de solo e clima das diferentes regiões do Brasil e também existe uma grande variabilidade das populações dos fungos presentes nestas diferentes regiões. Devido a essas diferenças, resultados de pesquisa têm mostrado que cada região do Brasil deve ter espécies e cultivares de porta-enxertos mais adaptados”, destaca o pesquisador Fábio Faleiro.

Segundo ele, os resultados têm sido animadores. “Em trabalhos de validação dessas cultivares, em condições comerciais de pomares de produtores com problemas com fusariose, as mudas enxertadas nas cultivares BRSRJ MD e UFERSA BRSRM 153 produziram muito bem e não foram acometidas pela fusariose”, avalia.

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