Seca extrema: Rio Paraguai continua baixando e atinge menor nível desde 1900


Índice de -67 cm é o pior em 124 anos e supera nível registrado na semana passada, quando a água atingiu -62 cm. Rio Paraguai registra o menor nível em 124 anos.
Reprodução/TV Morena
A seca severa que atinge o Pantanal continua refletindo sobre o nível do Rio Paraguai. Nesta terça-feira (15), dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB) apontam que o índice está em 67 cm negativos em Ladário (MS). É o pior índice desde que a medição iniciou, em 1900, superando o registro da semana passada, quando o recorde foi de -62 cm.
Segundo o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), o nível médio para esta época do ano é de 1,8 metro. Os índices registrados em outubro deste ano são os piores e revelam que o Pantanal vive a pior estiagem desde 1964, ano em que a região enfrentou problemas com a seca extrema.
A bacia do Rio Paraguai possui 18 réguas de medição distribuídas ao longo de 2.695 Km de extensão. Além de Ladário, outras oito réguas estão na classificação de seca extrema do SGB e apresentam níveis históricos. Veja abaixo os níveis registrados nesta terça-feira (15) pelo SGB :
Porto Murtinho: -60cm
Cáceres: -40cm
Barra dos Bugres: -36cm
Porto Esperança: -146cm
Porto Conceição: -164cm
Pousada Taiamã: -192cm
Forte Coimbra: -194cm
Bela Vista do Norte: -227cm
O Rio Paraguai passa também pela Bolívia, Paraguai e deságua na Argentina. É o principal rio do Pantanal, e tem registrado níveis baixíssimos desde o início de 2024 – em julho registrou o menor nível em quase 60 anos, cenário que se repete em outubro. O rio abrange 48% do estado de Mato Grosso e 52% de Mato Grosso do Sul, atravessando os biomas Cerrado, Pantanal e também o Chaco, considerado bioma paraguaio semelhante ao Pantanal. Além disso, é considerado o oitavo maior rio da América do Sul.
Na Bolívia, o cenário de seca extrema também se repete e a Capitania de Puerto Mayor informou ao g1 MS que o nível no país vizinho, na fronteira com o Brasil, está em -50 cm. “Os níveis registrados são históricos e há prejuízos para o comércio exterior”, relata o órgão boliviano.
Chuvas abaixo do esperado
Bancos de areia são indícios da seca no Rio Paraguai
Valdeir Pereira/Tv Morena
Pesquisadores do SGB vêm alertando desde fevereiro para a possibilidade de mínimas históricas no Rio Paraguai em decorrência do baixo volume de chuvas. “Essa seca vem sendo observada em razão das chuvas abaixo do normal durante toda estação chuvosa, desde outubro de 2023. Por isso, temos alertado sobre esse processo que se desenhava na bacia”, explica o pesquisador Marcus Suassuna, do SGB.
Entre outubro de 2023 e setembro de 2024, a estimativa de chuva do SGB era de 1097mm, mas o total estimado foi de 702 mm, representando déficit de 395 mm. O órgão reforça que a recuperação dos níveis da Bacia do Rio Paraguai será lenta e a estimativa é de que o nível fique abaixo de zero até a segunda quinzena de novembro.
Com os baixos níveis, autoridades locais vêm recomendando aos navegantes cuidado redobrado durante o deslocamento. “É muito importante que os navegantes tenham bastante cuidado durante a condução da embarcação porque eles podem se deparar com bancos de areia, baixas profundidades e canais estreitos”, ressalta o Capitão-tenente da Marinha, Eduardo Pontual Dubeux.
Incêndios
Além da seca, o bioma enfrenta o problema dos incêndios florestais que só este ano já devastaram 12,7% de área do bioma (tanto em MS quanto em MT), segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). A temporada do fogo este ano começou mais cedo e de forma mais severa em razão das mudanças climáticas.
Nesta segunda-feira (14), incêndio de grandes proporções atingiu uma das regiões mais isoladas e preservadas do Pantanal, a Barra do São Lourenço, que fica na divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O PrevFogo, órgão vinculado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mobilizou uma equipe de 28 brigadistas para combater o fogo na região. As chamas continuam pela região nesta terça-feira (15).

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