No Brasil, não é incomum avistar pelas ruas veículos antigos, com 10, 20 ou até 30 anos de fabricação e pode até ser uma vantagem manter esses automóveis, pois quanto mais velho for o carro, mais barato é o seu IPVA, que dependendo pode até sair de graça. No entanto, no Japão a história é diferente, carros usados com mais de três anos de vida não duram no país e são logo despachados.
Isso pode parecer absurdo e até mesmo beirar ao desperdício, mas existe uma explicação e o nome dela é Shaken. Essa sigla designa uma inspeção japonesa que custa por volta de 100.000 ienes, o que corresponde a aproximadamente R$ 4 mil. Ela é obrigatória a partir do 3º ano de vida do carro.
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Por isso, para fugir dessa taxa cara, muitos japoneses optam por vender seus carros e o mercado que tem interesse nesses modelos está fora do país. Os automóveis mais baratos ou danificados são cortados em pedaços para caberem melhor em um contêiner e são enviados para o outro lado do mundo, como Paquistão ou Afeganistão.
Nesses países, eles são remontados para ficarem como novos, ou quase. Os carros usados são soldados e pintados ao ar livre, assim os profissionais responsáveis por esse mercado conseguem reconstruir um Suzuki e deixá-lo como novo ou perto disso.
Como funciona a Shaken para carros usados japoneses
No Japão, quando são completados três anos após a compra de um carro, ele deve passar pela inspeção técnica local Shaken. E quando o carro completa quatro anos, essa inspeção técnica é realizada a cada dois anos. Já veículos com mais de 10 anos devem ser inspecionados anualmente.
O valor altíssimo da taxa é para carros que estão em perfeitas condições e sem nenhuma irregularidade. Se o carro não passar na vistoria na primeira tentativa, o valor pode aumentar muito mais.
E esse é o grande problema, pois essa inspeção é extremamente rigorosa. Enquanto em outros países o carro é aprovado tranquilamente com um pequeno amassado na lataria, no Japão isso é impensável. É exigido que o carro esteja em perfeitas condições.
Dessa forma, se algum defeito for detectado, todos os reparos necessários para deixar o carro em conformidade são feitos diretamente pela inspeção técnica, isso inclui suas próprias taxas, que estão longe de ser baratas.
No fim das contas, ou o motorista gasta seu dinheiro em uma oficina antes de ir à inspeção técnica, ou ele o gasta na inspeção técnica. No final, a inspeção geralmente leva mais de um dia e pode custar muito mais do que os R$ 4 mil iniciais.
Por isso, diante de uma manutenção que inevitavelmente fica cada vez mais cara com o passar dos anos, a maioria dos japoneses troca de carro depois de quatro anos. E ninguém mais quer um carro com mais de 10 anos, a menos que haja alguma razão específica ou que o condutor seja realmente apaixonado pelo modelo.
Manter um Nissan Skyline GT-R R32 dos anos 1990 pode até fazer sentido para um entusiasta, mas manter um Suzuki Wagon R 2016 até 2025 não faz sentido para praticamente ninguém.
Como os carros usados são levados e vendidos?
Esses carros usados, especialmente aqueles que se envolveram em acidentes, são leiloados e comprados por agências de compras. Em seguida, eles são enviados principalmente para os Emirados Árabes Unidos, de onde são exportados novamente para o Paquistão ou Afeganistão.
Foi assim que, discretamente, os Emirados Árabes Unidos entraram no top 20 dos maiores exportadores de automóveis do mundo em 2022, sem ter uma única fábrica de automóveis em seu território. Eles exportaram US$ 7 bilhões (R$ 40,7 bilhões) em automóveis no ano de 2022.
Nos contêineres os veículos são cortados em pedaços para aproveitar melhor o espaço. Uma vez no destino, eles são reconstruídos, mesmo que isso signifique fazer um carro a partir de dois ou três diferentes. No fim do processo eles são pintados, limpos e vendidos. Esse trabalho é feito a partir de um inventário de peças e depois a reconstrução, que segue praticamente as mesmas etapas de uma fábrica.
O processo é de se admirar e, por mais que o carro não tenha a integridade e rigidez que tinha quando saiu de fábrica, ainda está em boas condições e é muito mais acessível do que um modelo novo.