China reduziu compras do agro brasileiro em 2024: o que significa?

Há mais de uma década, a China tem ocupado o lugar de principal importador dos produtos agropecuários do Brasil. A demanda de Pequim visa atender não somente a sua vasta população, que ultrapassa 1,4 bilhão de pessoas, mas também a necessidade de sustentar sua crescente urbanização. Contudo, apesar de seguir no topo do destino das exportações do agronegócio brasileiro, houve uma retração chinesa no quadro geral em 2024. 

Conforme destacado pelo Agro Estadão, os embarques do setor registraram, no último ano, o segundo melhor da série histórica. Entretanto, pela primeira vez desde 2000, a participação da China e Hong Kong caiu: saiu de 38% para 31%, considerando a receita. 

Houve queda também nas vendas do agro brasileiro para os países da América Latina. Em contrapartida, conforme levantamento do Insper Agro Global, os demais países da Ásia, União Europeia, MENA (Oriente Médio e Norte da África), África Subsaariana, Estados Unidos e Canadá, expandiram suas compras.

Segundo Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global, a redução das compras chinesas reflete o recuo nos preços de algumas commodities. “Se olharmos para carnes, açúcar, algodão, produtos florestais, todos tiveram aumento. O café, inclusive, teve preços muito bons. Já a soja, principal produto importado pela China, e o milho caíram em relação ao ano anterior”, destacou Jank. 

O economista da FGV Agro, Felippe Serigati, aponta que, apesar da queda nas compras chinesas, o Brasil tem conseguido abrir novos mercados, o que contribui para uma diversificação das exportações. “Por mais que a abertura desses mercados nem de perto chegue a substituir a China, naturalmente vai aumentando o volume de destino das exportações. Mas ainda assim, o ponto mais importante é: por mais que a economia chinesa esteja apresentando um quadro de desaceleração, isso não deve impactar de forma excessiva as exportações do agro”, ressalta.

Menos grãos brasileiros no mercado chinês

Em termos de receita, as compras chinesas do complexo soja totalizaram US$ 32 bilhões em 2024, uma queda de 18% em relação aos US$ 39 bilhões registrados no ano anterior. O valor do milho, por sua vez, atingiu US$ 800 milhões, abaixo dos US$ 4 bilhões de 2023.

No aspecto de volume, o complexo soja registrou uma diminuição de 2,7%, com a China importando 73 milhões de toneladas em 2024, em relação aos 75 milhões de toneladas do ano anterior. Já as importações de milho sofreram um recuo mais acentuado, passando de 16 milhões de toneladas para 2 milhões de toneladas no último ano.

De acordo com Jank, a diminuição no volume de soja e milho brasileiros importados pela China, em parte, reflete a desaceleração da segunda maior economia do mundo, mas tem questões que vêm da oferta. “Até 2017/2018, estávamos falando de um crescimento de 10% a 13% ao ano nas importações chinesas de soja. Agora, esse crescimento está em torno de 2%/3% ao ano. No milho, nesse último ano, a performance do Brasil para a China caiu, enquanto a dos Estados Unidos subiu, recuperando espaço”, pontua Jank. 

No entanto, apesar de ter diminuído as compras de grãos brasileiros, Pequim importou um volume recorde de soja em 2024 — 105,03 milhões de toneladas do grão, representando um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior, conforme dados alfandegários do governo chinês divulgados na segunda-feira, 13. Esse movimento ganhou força no final do último ano, devido a temores de uma guerra comercial com os Estados Unidos.

O que esperar das exportações do agro brasileiro para a China em 2025

Apesar das mudanças estruturais na segunda maior economia do mundo, o Banco Mundial estima um crescimento de 4,5% para a economia chinesa este ano, cenário que sinaliza demanda aquecida. 

Ao mesmo tempo, as projeções indicam para uma colheita recorde de grãos no Brasil, o que pode garantir volumes expressivos de exportação, mesmo que os preços continuem abaixo dos níveis dos últimos anos. “A perspectiva é favorável, mesmo que o crescimento da China seja mais modesto, em torno de 3% ao ano. Ainda assim, trata-se de um aumento significativo na geração de renda global, o que influencia positivamente o mercado brasileiro,” destaca Serigati. 

Por outro lado, a mudança do ciclo pecuário brasileiro pode desencadear uma menor oferta de carne bovina ao mercado. Isso acontece pela maior retenção de fêmeas para produção de bezerros. “A quantidade ofertada de carne lá na frente vai aumentar quando esse bezerro se tornar um boi gordo, mas no curto prazo é um animal que não será abatido. Então, a China talvez não consiga comparar esse volume, mas não porque ela não queira, mas talvez, porque o Brasil produzirá um volume menor de carne devido ao ciclo pecuário”, pondera o economista da FGV Agro. 

Os impactos do cenário geopolítico também não são descartados. Com Donald Trump assumindo o comando dos Estados Unidos, as indicações são para imposição de uma série de tarifas de importação para diversos países, como a China, o que pode gerar uma guerra comercial, assim como em 2018. “Há chances de que uma nova rodada de aumento das tarifas de importação contra produtos chineses gere retaliações por parte da China para produtos agropecuários americanos, possivelmente beneficiando países como Brasil e Argentina no mercado do país asiático”, destacam os especialistas do Insper Agro Global em relatório. 

Além disso, o fortalecimento do dólar frente ao real também deve refletir diretamente no resultado das exportações brasileiras. Para Serigatti, o dólar mais alto tende a fazer com que o exportador tenha uma receita maior em reais. Isso se deve ao aumento do valor das exportações em moeda local, o que pode beneficiar os produtores brasileiros, mesmo que o valor em dólares da commodity exportada seja menor.

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