Como a Inteligência Artificial tem ajudado o produtor a ganhar mais 

Cabine de um trator

A ideia da inteligência artificial (IA) tomar o lugar dos humanos parece distante, mas em algumas tarefas no setor agrícola ela já tem sido mais vantajosa. “Eles [os agrônomos] dizem que é por acaso, mas vamos ver”, brinca o CEO da Sierentz Agro, Christophe Akli. 

Ele comanda uma das maiores empresas produtoras de soja e milho do Brasil com mais de 100 mil hectares espalhadas pelos estados do Pará, Maranhão e Piauí. Desses, o planejamento de 4 mil hectares está nas mãos da inteligência artificial e os resultados têm se mostrado positivos e até mesmo melhores do que os feitos pelos agrônomos. 

“Quando a gente faz o planejamento tem o planejamento tradicional: tanto de insumo, tal variedade, plantar na data e no talhão tal. O agrônomo faz os cálculos e estima um resultado de colheita. Aí a gente guarda isso e pede pra inteligência artificial para fazer o planejamento dela. Quando você implementa, a gente viu nos testes de larga escala que a gente fez, ela não entregou exatamente o que tinha planejado, mas entregou um resultado melhor do que o resultado do agrônomo em dólares por hectare”, explica Akli ao Agro Estadão. Segundo ele, a diferença é de US$ 3 a US$ 5 por hectare, o que em 100 mil hectares poderia chegar a US$ 500 milhões.

A proposta de incorporar a IA no negócio rural partiu da “curiosidade”. A empresa gosta de aproveitar tecnologias e inovações. De acordo com Akli, faz parte de uma espécie de “terceira dimensão” na busca por melhor desempenho, sendo que as primeiras “dimensões” passam pela inclusão de máquinas e equipamentos de ponta, além da expansão vertical da produção, ou seja, produzir mais na mesma área.

Por dentro da IA

O CEO esclarece que a ferramenta funciona em um esquema de rede neural, com “sistemas que vão aprendendo”. Os dados são incorporados na IA e ela faz um cruzamento entre eles e de forma específica para cada ponto da área. 

Ao todo são 11 camadas de informações que compõem o banco de dados que a IA da Sierentz analisa. Vai desde solo e preparação do solo, indicadores pluviométricos, pragas e doenças, uso das máquinas até os índices de colheita por metro. É como pegar um canudo, furar um bolo com 11 camadas, em que cada uma tem diferentes ingredientes. Na hora de examinar o bolo que ficou dentro do canudo, será possível ver como os diferentes ingredientes interagem. 

“A partir do momento que você consegue furar essas camadas verticalmente numa determinada área e entender como vai ser a dinâmica da lavoura naquela área, você consegue fazer um planejamento completamente diferente. Muito mais muito mais granular. Então o nosso sonho é tratar 100 mil hectares como 100 mil parcelas de um hectare cada uma com sua particularidade”, salienta Akli.

Ele também ressalta a integração que acontece com os tratores e colheitadeiras no campo. “As máquinas hoje tem taxa variável, então se você tiver a decisão inteligente, você consegue programar as máquinas. Ela consegue mudar a sua dosagem para se adaptar”.

Christophe Akli, CEO da Sierentz Agro. Foto: Case IH/Divulgação

Agrônomos x Inteligência Artificial: existe a disputa?

Apesar das comparações de resultdos, Akli não pretende dispensar os agrônomos. No caso da IA da Sierentz, o que ela tem auxiliado é na tomada de decisão e na previsibilidade. Esse último aspecto pode fazer com que um planejamento tenha mais ou menos sucesso. “A predição por si só tem pouco interesse. Mas ela fala: ‘Olha, você tem dez coisas que você pode mudar e você vai ter tal resultado’. A cada vez que você faz um planejamento e você consegue prever o resultado, você consegue prever o impacto de cada decisão”.

A capacidade de analisar uma alta concentração de dados e entregar indicações mais específicas é o que chama atenção e pode fazer a diferença no bolso. “Hoje é muito difícil para um agricultor determinar, por exemplo, que botar cinco quilos de cloreto de potássio ou cinco quilos a menos vai ter um resultado bom ou ruim. A inteligência artificial te diz: ‘Não realmente, se você botar cinco quilos a mais, que vão te custar US$ 30 por hectare, você vai colher três sacas a mais que valem US$ 60 dólares por hectare’. Então o fato de poder predizer permite você ajustar todas as etapas do manejo da sua lavoura”, comenta Akli.

Na empresa, a tecnologia ainda está em fase “pré-operacional”, isto é, ainda está em teste. “Ainda estamos tentando entender, porque, obviamente, existem variáveis não mensuráveis”, pontua o empresário. Quanto ao futuro, ele indica: “A gente acha que está no tempo ela vai se incorporar como uma ferramenta de decisão, talvez não a única, mas uma ferramenta de decisão importante”.

*Jornalista viajou a convite da Case IH e da TIM

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